Decorre na Costa Ocidental de África, desde fevereiro de 2014, um surto de doença por Vírus Ébola que já vitimou mais de três mil pessoas. E alguns especialistas temem pelo disseminar do vírus à escala planetária. Pode ser uma questão de tempo se não forem tomadas medidas de saúde adequadas.
O risco para os países europeus é considerado baixo. No entanto, a Direção-Geral da Saúde disponibiliza, no seu portal, documentação com medidas de prevenção.
Trata-se de uma doença grave, frequentemente mortal. Os sintomas, que têm início entre dois a 21 dias após a infecção pelo vírus Ébola, englobam uma febre súbita superior a 38,6 °C, debilidade, dores musculares e de garganta. E estes são só os sintomas iniciais.
A fase seguinte da doença carateriza-se por vómitos, náuseas, diarreia e em alguns casos, hemorragias tanto internas como externas, acompanhada por insuficiência de vários órgãos, entre eles o fígado e os rins. Foram estes sintomas extremos que deram primeiramente o nome à doença como febre hemorrágica Ébola (FHE).
O vírus Ébola
Ébola é uma doença causada por um vírus, do género Ebolavirus. O vírus foi detectado pela primeira vez em 1976 em dois surtos simultâneos ocorridos em Nzara (Sudão) e Yambuku (República Democrática do Congo). Como a aldeia em que se registou um dos surtos está situada perto do rio Ébola, o vírus ficou este nome.
Transmissão
O reservatório natural do vírus em África é considerado como ser algumas espécies de morcegos frugívoros (que se alimentam de frutas), em particular Hypsignathus monstrosus, Epomops franqueti e Myonycteris Torquata. Por isso, a distribuição geográfica dos Ebolavirus pode ser coincidente com a dos morcegos referidos.
Em África estão documentados ainda casos de infecção associados à manipulação de outros animais como sejam chimpanzés, gorilas, macacos, antílopes e porcos-espinhos infectados, que tinham sido encontrados mortos ou doentes na selva. Destes hospedeiros naturais o vírus é transmitido para a população humana através do contacto com órgãos, sangue, secreções e outros líquidos corporais dos animais infectados.
Como é que o vírus passa dos morcegos para os outros animais?
Os morcegos mordem a fruta e contaminam-na com saliva, fruta essa que é depois recolhida e comida por mamíferos terrestres como os gorilas. Esta cadeia de eventos constitui um possível meio de transmissão indireta entre o hospedeiro natural e as populações animais, pelo que a investigação tem-se focado na saliva dos morcegos.
Mecanismo da infecção
Os principais alvos da infecção do vírus Ébola são as células endoteliais que recobrem os órgãos e o interior dos vasos sanguíneos, um tipo de glóbulos brancos (os fagócitos mononucleares), e os hepatócitos (células do fígado).
A infecção das células endoteliais provoca a perda de integridade da parede dos vasos sanguíneos, o que potencia as hemorragias internas e externas. A infecção de tantos tipos de células diferentes em vários órgãos é uma das razões para a alta mortalidade causada pelo vírus Ébola.
Não há vacina contra o vírus Ébola. Estão a ser experimentadas algumas possibilidades em animais modelos, mas ainda nenhuma está disponível para uso clínico. A existência de uma vacina permitiria ajudar o sistema imunitário a identificar e eliminar o vírus Ébola logo depois da infecção e reduzir o contágio.
Também não há nenhum tratamento farmacológico específico, apesar de algumas drogas experimentais estarem a ser testadas em casos extremos. Os casos graves requerem cuidados intensivos. Os doentes são afectados por uma desidratação intensa pelo um dos tratamentos é a sua reidratação por via intravenosa ou oral com soluções que contenham electrólitos.
Risco de infeção pelo vírus Ébola e como o evitar
É preciso dizer que o risco de infeção pelo vírus Ébola é muito baixo mesmo para quem vive em zonas afetadas ou tiver viajado para essas zonas, exceto se houver exposição direta a fluidos corporais de pessoas ou animais infetados, mortos ou vivos. O contacto com fluidos corporais inclui o contacto sexual não protegido com doentes, até três meses depois de estes terem recuperado da doença.
O que é que se deve fazer em caso de suspeita?
A Direcção Geral de Saúde aconselha que em caso de suspeita de ébola, ligue primeiro para a Linha de Saúde 24. Siga os procedimentos que lhe serão indicados. Não se dirija a um hospital ou centro de saúde usando transportes públicos.
A Direcção Geral de Saúde (DGS) afirma que “o contacto ocasional em locais públicos com pessoas que não pareçam estar doentes não transmite o vírus. Os mosquitos também não transmitem o vírus Ébola. Não há evidência de transmissão por aerossol deste vírus, como acontece com o vírus da gripe.”
Fontes: Organização Mundial da Saúde e Direcção Geral da Saúde.
António Piedade
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva
