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| Hélio Bernardo Lopes |
Para lá da condenação do próprio Bernard Madoff, e do que se terá passado ao nível do casal – desconheço a situação concreta –, havia já tido lugar o suicídio de um dos dois filhos de Bernard. Desta vez, como agora se soube, foi a morte do seu segundo filho, por via do regresso de um linfoma de que se supunha definitivamente afastado, e que a vítima atribuiu à pressão que sofreu por via de quanto teve lugar. É muitíssimo provável que tivesse razão. Não chegou a viver meio século.
Abordei este caso com o meu netinho, tendo-lhe referido as reiteradas palavras do Papa Francisco ao redor da miragem do dinheiro. Salientei-lhe, até com casos de concidadãos nossos, o facto de ser o dinheiro um fator sempre negativo, porque comporta a possibilidade de se tornar aos olhos das pessoas como o bem supremo que está presente na vida.
Claro está que o meu pequenote logo salientou que sem dinheiro não se consegue nada, mas a isso contrapus que o dinheiro só resolve os problemas que possam ser resolúveis. Simplesmente, o problema era outro: o mais importante são os valores que conferem dignidade à vida. Quem não tiver dinheiro, talvez o possa vir a conseguir, mesmo que com grande sacrifício. Mas quem o tiver, poderá vir a perceber que, afinal, ele não lhe resolve alguns dos mais importantes problemas que possa ter. E dei-lhe o exemplo de um divórcio: preferes ter o suficiente para fazer uma vida digna e capaz, mas com os pais casados, ou riquíssimo, mas com um divórcio dos pais? Pois, a resposta foi rápida: porra, tu és lixado!
Rindo com gosto, ainda lhe coloquei esta questão: se fosses o único a ganhar o Euromilhões, no montante de cento e cinquenta milhões de euros, a vida ficava-te melhor ou pior? Rapidamente, respondeu-me: melhor! Bom, fiz-lhe uma simulação do que lhe poderia acontecer, e que só não cairia num ambiente de vida infernal se tivesse muito bom senso e usasse a maior parte desse dinheiro ao serviço dos concidadãos carenciados. E dei-lhe muitos exemplos. Mas salientei-lhe que deveria reter para si, irmã e pais, cerca de vinte milhões de euros.
Mas logo lhe salientei: estuda, estuda sempre, aprende cada dia mais e mais diversificado – com doze anos, já cozinha como poucos –, aproveita os tempos livres para realizares tarefas aparentemente menos importantes, mas solidárias, sendo que tudo isso te preparará para a vida e para as suas agruras. E completei: mesmo que tivesses ganhado os tais cento e cinquenta milhões, devias proceder da mesma maneira, porque tudo isso deixa um resíduo, ao passo que o dinheiro vai-se. Enfim, fiquei bastante triste com a morte deste outro filho de Bernard Madoff.
