A trágica epopeia do dinheiro

Hélio Bernardo Lopes
Uma notícia de ontem deixou-me fortemente triste, tendo-a mesmo discutido, tal como o respetivo conteúdo, com o meu netinho ainda pequenote. Refiro-me à morte do segundo filho de Bernard Madoff, atingido por uma recidiva de um linfoma de que parecia ter saído vencedor há onze anos. Terá mesmo dito, algum tempo antes da morte, que o regresso da sua doença fatal terá sido determinado pelo que se passou ao redor do histórico, mas corrente, caso Madoff.

Para lá da condenação do próprio Bernard Madoff, e do que se terá passado ao nível do casal – desconheço a situação concreta –, havia já tido lugar o suicídio de um dos dois filhos de Bernard. Desta vez, como agora se soube, foi a morte do seu segundo filho, por via do regresso de um linfoma de que se supunha definitivamente afastado, e que a vítima atribuiu à pressão que sofreu por via de quanto teve lugar. É muitíssimo provável que tivesse razão. Não chegou a viver meio século.

Abordei este caso com o meu netinho, tendo-lhe referido as reiteradas palavras do Papa Francisco ao redor da miragem do dinheiro. Salientei-lhe, até com casos de concidadãos nossos, o facto de ser o dinheiro um fator sempre negativo, porque comporta a possibilidade de se tornar aos olhos das pessoas como o bem supremo que está presente na vida.

Claro está que o meu pequenote logo salientou que sem dinheiro não se consegue nada, mas a isso contrapus que o dinheiro só resolve os problemas que possam ser resolúveis. Simplesmente, o problema era outro: o mais importante são os valores que conferem dignidade à vida. Quem não tiver dinheiro, talvez o possa vir a conseguir, mesmo que com grande sacrifício. Mas quem o tiver, poderá vir a perceber que, afinal, ele não lhe resolve alguns dos mais importantes problemas que possa ter. E dei-lhe o exemplo de um divórcio: preferes ter o suficiente para fazer uma vida digna e capaz, mas com os pais casados, ou riquíssimo, mas com um divórcio dos pais? Pois, a resposta foi rápida: porra, tu és lixado!

Rindo com gosto, ainda lhe coloquei esta questão: se fosses o único a ganhar o Euromilhões, no montante de cento e cinquenta milhões de euros, a vida ficava-te melhor ou pior? Rapidamente, respondeu-me: melhor! Bom, fiz-lhe uma simulação do que lhe poderia acontecer, e que só não cairia num ambiente de vida infernal se tivesse muito bom senso e usasse a maior parte desse dinheiro ao serviço dos concidadãos carenciados. E dei-lhe muitos exemplos. Mas salientei-lhe que deveria reter para si, irmã e pais, cerca de vinte milhões de euros.

Mas logo lhe salientei: estuda, estuda sempre, aprende cada dia mais e mais diversificado – com doze anos, já cozinha como poucos –, aproveita os tempos livres para realizares tarefas aparentemente menos importantes, mas solidárias, sendo que tudo isso te preparará para a vida e para as suas agruras. E completei: mesmo que tivesses ganhado os tais cento e cinquenta milhões, devias proceder da mesma maneira, porque tudo isso deixa um resíduo, ao passo que o dinheiro vai-se. Enfim, fiquei bastante triste com a morte deste outro filho de Bernard Madoff.

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