Opinião por: Hélio Lopes - "O Escândalo da Democracia Neoliberal"

Comigo ainda em Almeida, foi dado a conhecer aos portugueses mais atentos o verdadeiro escândalo dos vencimentos de mil e um dos nossos ditos gestores de topo.

Muitos, a uma primeira vista, poderiam mesmo não acreditar, como em tempos se deu comigo, ao escutar, de pessoa materialmente conhecedora, o vencimento médio mensal de certo académico da área da Economia, e apenas na sua qualidade de consultor.

Mas nesses últimos dias da minha mais recente estadia em Almeida, lá pude tomar conhecimento de alguns dos fabulosos, e mais ainda escandalosos, vencimentos desses tais gestores (ditos) de topo: o menor, com cerca de quatrocentos contos por dia, e o maior, com perto de mil e quatrocentos!!!

Tudo era, porém, ainda abaixo do máximo do conjunto destas prebendas, porque há minutos pude ouvir as (frouxas) palavras de João Soares sobre outros vencimentos ainda maiores, e de mais uns tantos (ditos) gestores de topo...

Esta realidade não constitui já um escândalo, porque um escândalo tem consequências, sendo que esta não terá um ínfimo delas. De resto, depois do que tem vindo a lume sobre a pedofilia por parte de uma boa imensidão de padres, que grito de alarme e de revolta se nos pode ainda mostrar de utilidade?!

Passaram muitos anos da minha vida - décadas, mesmo - desde os tempos em que viajava no Metropolitano de Lisboa com Franco Nogueira de pé, frente a uma das portas da carruagem. Ou das mil e uma vezes em que, com colegas meus, conversando de tudo entre Campo de Ourique e o Aeroporto, lá íamos encontrar o histórico Ministro dos Negócios Estrangeiros, em pleno átrio de entrada do aeroporto, junto à histórica tabacaria, conversando com gente do seu ministério, e com todos nós olhando e comentando o tempo político que passava.

E que dizer dos constantes encontros na Baixa, pelo fim da tarde, com Paulo Rodrigues, Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, que ali chegava depois do seu passeio vespertino, a pé, desde a residência de Salazar? A uma nota de cem euros por cada encontro, e estaria nas sete quintas por uns bons meses!

Por fim, o próprio delfim de Salazar, José Gonçalo Correia de Oliveira, com os seus carros topo de gama, mas sempre muitíssimo amável e simpático para com o meu grupo de juventude, à noite, no cruzamento da Correia Teles com a Tomás da Anunciação. Dava com cada grupo de cinco ou seis de nós sucessivas voltas ao bairro onde residíamos, de molde a sentirmos a qualidade dos seus carros. O leitor imagina uma coisa destas nos dias de hoje...?

O meu estimado amigo acredita que estes vencimentos sem vergonha seriam alguma vez possíveis nos tempos de Salazar? Claro que não, porque o Estado era forte e havia uma moral de que dele nos chegava! Esta nossa (dita) democracia foi, para uns quantos, um verdadeiro
euromilhões. E isto é com Sócrates, porque com o neoliberalismo de Passos Coelho, bom, seria o impensável...!

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