Fortíssima prova dos nove

|Hélio Bernardo Lopes|
Está aí para durar o já histórico folhetim do PSD, desta vez ao redor do combate entre Luís Montenegro e Rui Rio. Como é já usual neste tipo de situações, estando-se em Portugal, a regra mais aconselhável é a de que o calado ainda é o melhor.

Também me vem parecendo, tal como referiu Pedro Pinto no noticiário da hora do jantar da TVI, que Luís Montenegro não parece estar muito crente numa sua vitória nesta reunião de quinta-feira. E também sorri, até de um modo aberto, quando ouvi Honório Novo bater, com significativa dureza, no seu tempo semanal na RTP 3, em Rui Rio, deste modo deixando alguma (aparente) compreensão para com Luís Montenegro. Eu mesmo havia referido que o melhor para a continuidade da atual solução governativa – é o que eu desejo – nunca seria com a presença de Rui Rio na liderança do PSD. De resto, Marcos Perestrelo, num dia recente, desancou de todo o modo e feitio em Rui Rio, quase sem beliscar Luís Montenegro, natural herdeiro da erradíssima e falhada Teoria do Diabo.

O mais interessante desta passada segunda-feira, porém, foi a presença de Luís Montenegro no Palácio de Belém, onde foi recebido, a seu pedido, pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Ora, nos termos do explicado no final da passada semana pelo Presidente da República, tal resultou apenas de um pedido do ora candidato ao derrube de Rui Rio. A uma primeira vista, ninguém na Presidência da República se informou sobre as razões do pedido, ou o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, quando questionado, o teria dito. Até porque ele é sempre extremamente clarificador nas suas intervenções.

Com grande espanto para mim, eis que Luís Montenegro, à saída da reunião com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, em plena Presidência da República, se determinou a perorar sobre o combate ora em curso que mantém com Rui Rio. Bom, caro leitor, fiquei, de facto, extremamente espantado, porque não me passa pela cabeça que uma tal intervenção possa ter sido feita sem que Luís Montenegro pudesse ter perguntado a Marcelo se este via inconveniente em abordar o tema à saída. Se assim não fosse, estar-se-ia perante um autêntico abuso de confiança pessoal e política. Acontece que o Presidente da República logo disse, pelo final da passada semana, que as disputas no seio do PSD são com o PSD e seus membros. O problema é que Marcelo Rebelo de Sousa é também membro do PSD, tendo até sido seu líder nacional. No limite, poderá até ter-se estado perante um falar e dois entenderes. Precisamente o que quase toda a gente interessada logo tomou como sendo a realidade.

Ora, estas palavras de Luís Montenegro à saída de Belém, de facto, não são ainda uma prova real do que todos os interessados desde logo adotaram como sendo a realidade, mas constituem uma fortíssima prova dos nove. Numa linguagem mais popular, uma espécie de gato escondido com o rabo de fora. O problema é que, mesmo tratando-se de uma fortíssima prova dos nove, ela acaba por ser tomada, afinal, como uma intromissão do Presidente da República nos problemas do combate político no seio do seu partido de sempre. Eu próprio logo entendi os dois encontros – com Rio e Montenegro – como o que todos sempre imaginaram.

Estrategicamente, entendo que este é o segundo grande erro político do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa neste seu primeiro mandato. Nota-se, nas convivências correntes, uma saturação do modelo adotado pelo Presidente da República, indo a todas (quase) sem mais, chegando mesmo ao ponto de gerar uma aparência com foros grandes de ser imensamente mais que um acaso. Enfim, uma fortíssima prova dos nove.

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