Simples falta de oportunidade?

|Hélio Bernardo Lopes|
Como é do conhecimento geral, não há quem não refira o caso do dito furto das armas de Tancos como algo da maior gravidade, impondo-se apurar tudo, doa a quem doer.

Perante uma tal realidade, foi com grande satisfação que ouvi Miguel Sousa Tavares, num momento informativo informal durante o noticiário da TVI das 13.00 horas, dizer esta frase: sim, iremos tentar descodificar o puzzle de verdades e mentiras à roda de Tancos. Referia-se o Miguel ao que iria abordar no noticiário da hora do jantar, onde dialogaria com Paulo Portas ao redor das recentes eleições brasileiras. Como também se compreende, para lá de muito satisfeito, acabei por ficar ansioso ao longo da tarde, matutando no que seria a tal descodificação que nos havia sido prometida.

Lá chegou, finalmente, o tal noticiário da TVI. Por um acaso, uns segundos depois de a minha netinha deixar a nossa casa, a caminho do carro do pai, que havia chegado para a levar. Pude, deste modo, acompanhar o noticiário completo da TVI das 20.00 horas.

Gostei imenso do debate – correto, esclarecedor e muitíssimo civilizado – entre Miguel Sousa Tavares e Paulo Portas, que permitiu ficar a conhecer a realidade que, em verdade, esteve por detrás das mil e uma mentiras contadas ao redor do PT e de Fernando Haddad. Ficámos até a saber que também Fernando Henrique Cardoso, ao tempo em que foi Presidente do Brasil, comprou votos na Câmara de Deputados, a fim de conseguir, se acaso não erro, uma determinada mudança constitucional que realmente se impunha. E também que o único assalto sofrido por Sousa Tavares no Brasil foi perpetrado por... polícias. Enfim, o Brasil.

No entretanto, o noticiário foi decorrendo. Volta que não volta, lá nos surgiu Miguel Sousa Tavares, comentando aspetos diversos da nossa vida social, até mundial, e a que se havia referido no noticiário da hora do almoço. A ansiedade, à roda de Tancos, como se compreende ia crescendo, até porque nunca duvidei de que todo este caso tem vindo a ser contado com mentiras a esmo, tornando-se evidente que por detrás do dito furto houve, para lá de outras possibilidades que pudessem surgir ao caminho, um objetivo político.

Simplesmente, este noticiário das 20.00 horas teria de chegar ao fim. De molde que fiquei boquiaberto ao escutar de Pedro Pinto que o tema que o Miguel iria tratar de seguida – não era o caso do dito furto das armas de Tancos – poria fim no próprio noticiário. Ainda assim, já pleno de estupefação, sem uma só referência à ausência do tema, quis acreditar que o mesmo pudesse vir a ser tratado, quase de seguida, na TVI 24. Bom, também aqui não tive sorte. Ou seja: sem mais, o que nos fora anunciado por Sousa Tavares como uma tentativa de descodificar o puzzle de verdades e mentiras à roda de Tancos, a ser operada neste noticiário das 20.00 horas, simplesmente se viu levado por uma qualquer onda de estranheza.

Como qualquer um facilmente aquiescerá, não é possível aceitar que profissionais da comunicação social possam esquecer-se de um tema sempre dito da maior importância, e sem ao menos fornecerem aos seus espectadores uma justificação para se não caminhar como prometido às 13.00 horas. Portanto, algo de força maior se terá imposto ao caminho. Objetivamente, custa-me entender esta realidade de um outro modo.

Claro está que Miguel Sousa Tavares teve a mais cabal razão quando referiu que o caso do dito furto das armas de Tancos se encontra envolto num puzzle de verdades e mentiras. E também teve razão ao referir que iria tentar descodificar o referido puzzle. Infelizmente, acabou por não nos mostrar essa sua descodificação. Uma situação que é a terceira, nos sentidos que se compreendem, deste tipo. A primeira, com Vasco Lourenço, que por duas vezes foi entrevistado em canais televisivos, salientando, até de modo sorridente, que o que se passara não era como se estava a contar. A segunda, com a QUADRATURA DO CÍRCULO, ao constatarmos que um puzzle estranho para José Pacheco Pereira – para todos, claro –, com peças que (realmente) não encaixavam, o levava a aceitar o que raramente considera como válido: algo do tipo (teoria da) conspiração. E, finalmente, este dito por não dito de Miguel Sousa Tavares no noticiário desta noite da TVI.

Perante tudo o que tem vindo a lume ao redor deste caso, surge a questão: haverá ainda alguém que, estando atento, não tenha já percebido a real raiz desta historieta? E será que a verdade da mesma poderá ser simplesmente exposta àqueles perante quem tantos se curvam em subserviências que são uma hipocrisia ou uma abjeção, como em tempos escreveu Salazar? Tenho as mais sérias dúvidas.

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