Pôncio Pilatos e a sucessão, sim, não, sim, não...

|Hélio Bernardo Lopes|
O que se passou – até agora, claro está – com a vinda de Marine Le Pen a Portugal, a fim de intervir na Web Summit que se aproxima, convidada que foi pela liderança da estrutura, veio mostrar o inenarrável cinismo hoje presente no seio da nossa dita democracia. Da nossa e da generalidade das restantes.

Depois de convidada, após uma ínfima pressão do nosso Bloco de Esquerda e de mais um ou dois, de pronto foi desconvidada. O que era sim, num ápice, passou a ser não. Simplesmente, existindo bastidores, e certamente pretendendo agradar a gregos e troianos, a organização de pronto passou a novo sim, voltando a colocar o nome de Marine Le Pen como um dos convidados. Era o terceiro termo desta inenarrável sucessão de cinismo e de desnorte.

O Governo Português, aflito com a situação criada, lá se determinou a salientar que nada tinha que ver com os convites, apenas da responsabilidade da organização. Talvez mais aflita ainda que o Governo de António Costa, a liderança da Web Summit fez surgir o quarto termo da sucessão: não. Para já, uma lamentável sucessão alternada, embora com este último termo tenha também surgido um fator de galhofa: a organização aceita sugestões para outros nomes, a entrar ou a sair. Bom, caro leitor, é a pândega!

Acontece, neste caso, que a recusa da vinda e Marine Le Pen se constitui, nos termos do que havia sido exposto pela organização, numa limitação à liberdade de expressão, uma vez que a defesa deste valor havia sido, precisamente, a razão apontada para a não discriminação da francesa. Além do mais, a organização pode até pôr na alheta Francisco Louçã, assim uma boa barulheira pública o exija. Como também convidar Victor Orban, se umas boas centenas dos nossos empresários o entenderem.

No meio de tudo isto, há um dado que se impõe ter em conta: se Trump venceu a corrida presidencial, se o BREXIT até teve lugar, que razões poderão assegurar que Marine Le Pen não venha a atingir o poder em França? E como verá ela, então, Portugal, os portugueses e a nossa classe política? De resto, ainda há momentos, em plena RTP 3, João Teixeira Lopes referiu que talvez até tenha existido alguma manobra do Governo ao nível de bastidores. Objetivamente, será agora difícil pensar o contrário. E o mesmo ocorrerá, por igual, com Marine Le Pen.

O que este caso veio mostrar foi simplesmente isto: Marine Le Pen foi impedida de intervir em Lisboa – e não teria nunca aí qualquer vantagem digna de registo – por razões objetivamente ideológicas.

No fundo, um isomorfismo do que se passou com Jaime Nogueira Pinto na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Nestes casos, e para já, foi a nossa classe bem pensante da dita Esquerda caviar que mostrou a sua cabalíssima intolerância. Até porque Marine Le Pen, objetivamente, nada tem que ver com a ideologia fascista. E nunca defendeu o racismo, apenas equacionou certa realidade tendo encontra diferenças determinadas. E é por este pensamento estar cada dia mais difundido no seio da (falhada) União Europeia – culpa da Esquerda que vendeu a alma ao Diabo –, que a tal Esquerda caviar voltou a mostrar-se primariamente aterrorizada com o que pudesse dizer em Lisboa Marine Le Pen. Só me ocorre, ao nível da nossa classe política – que é feito do CDS, do PSD, do PCP, dos Verdes, do Presidente da República e de Fernando Medina? –, Pôncio Pilatos.

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