Na segunda temporada de Westworld, Dolores (Evan Rachel Wood) demonstra uma evolução da sua personagem, dando-nos a possibilidade de pensar alguns temas como o transumanismo e/ou machine learning, e/ou simulação.
No sexto episódio (“Phase Space”), por exemplo, Bernard (Jeffrey Wright) expressa uma dúvida receosa sobre Dolores (Evan Rachel Wood), a propósito do modo como esta poderia vir a desenvolver as suas escolhas - portanto, assistimos a dois robôs a mimetizarem o funcionamento de um sistema comportamental, sendo que Bernard estaria num contexto de simulação orientado por Dolores, levando-me a pensar num contrassenso: por um lado seriam capazes de pensar, de ter consciência para querer optar, de compreender a sua humanidade (ou evolução de personalidade); por outro lado, não têm a capacidade de se auto definirem/auto distinguirem de uma ‘máquina’, ainda que consigam auto definir-se como um aprimoramento humano.
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A substituição do humano através de um upload da consciência para o mundo virtual (O Vale - no episódio “The Passenger) – tal como tem sido explorada em algumas app. como a Eterni.me (sobre a qual também já por aqui escrevi) volta a deixar-nos novamente uma mensagem sobre o posicionamento da tecnologia face ao humano: tudo se passa como se houvesse uma nova realidade que escapa à nossa compreensão sensorial (algo que Kant também nos deu a pensar). É esta a premissa que tem sido usada para validar a ideia de que vivemos numa simulação à qual chamamos, erradamente, realidade.
Relembrando o filme The Matrix do Nag Hammadi (1999), também nele se presumiu a existência da realidade adormecida numa simulação; o Baudrillard, na obra Simulacros e Simulação, deu-nos a ler a diferença entre realidade material e realidade social; e o Deleuze em Différence et répétition comparou o virtual ao material. A questão que coloco é - aceitando que a simulação computacional pode ser uma metáfora, no sentido de se tornar um modelo alternativo para demonstrar aquilo que tem sido descrito em termos teológicos (p. ex.): em que momento é que a discussão em torno do livre-arbítrio vs. determinismo deixa de se colocar face a uma IA que se autodefine enquanto aprimoramento humano?
Lia Raquel Neves
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva