Luis Arnaut |
Em causa está a reorganização de moléculas necessária para a transferência de eletrões. Para ocorrer este tipo de reações químicas, a teoria de Marcus prevê que essa reorganização tem de ser principalmente efetuada nos solventes, mas o estudo agora publicado diz que não é assim, evidenciando que a chave para a transferência de eletrões está nos reagentes.
Esta descoberta é o culminar de duas décadas e meia de estudos desenvolvidos no Departamento de Química da FCTUC, que geraram muita controvérsia dentro da comunidade científica ao longo do percurso. O grande impulsionador de toda esta investigação foi o químico Formosinho Simões (catedrático da FCTUC, falecido em dezembro de 2016), que sempre questionou a teoria de Marcus.
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Confrontado com duas visões radicalmente opostas em relação a esta reação química, «em 1993 reuni os químicos mais eminentes do mundo num NATO Workshop em Portugal para discutir o problema. À exceção de Formosinho Simões, ninguém ousou questionar o prémio Nobel. Foi uma discussão muito intensa», recorda o docente da FCTUC.
No entanto, o grupo de Coimbra não esmoreceu e avançou sozinho na conceção de experiências que permitissem determinar qual das duas teorias estava correta. Foram necessários 25 anos: «foi uma tarefa extremamente difícil. Tivemos de desenhar, conceber e executar um vasto conjunto de estudos e experiências. Há múltiplas razões que justificam tantos anos de estudo, entre as quais a exigência de equipamento altamente sofisticado que nós não possuíamos, a necessidade de sintetizar moléculas que não existiam e a contratação de pessoal altamente qualificado para desenvolver o trabalho» sublinha Luís Arnaut.
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Sebastião Formosinho |
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Quanto a implicações práticas desta nova teoria – denominada de “modelo de interseção de estados” –, o catedrático comenta: «não creio que de repente a teoria desenvolvida em Coimbra permita originar um produto que chegue ao mercado com vantagens relativamente aos existentes. Demorámos 25 anos a realizar esta experiência, por isso é expectável que demore muitos anos para se desenvolver sistemas de uma forma diferente. Porém o nosso modelo pode inspirar melhores soluções em áreas onde a transferência de eletrões é importante».
As reações de transferência de eletrão são a base das reações de oxidação-redução, e ocorrem em sistemas biológicos como a fotossíntese e a respiração, bem como em sistemas artificiais, por exemplo, painéis solares, polímeros condutores utilizados em televisões e computadores, optoelectrónica, etc.
Cristina Pinto (Assessora de Imprensa - Universidade de Coimbra)
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva