Atualmente cerca de 700 000 mortes/ano são registadas em todo o mundo devido a infeções provocadas por bactérias resistentes a antibióticos. E perante o acentuado desinteresse das farmacêuticas na pesquisa de novos antibióticos (essencialmente por questões de retorno do investimento), estima-se que por volta do ano de 2050 este número ascenda aos 10 milhões.
A resistência a antibióticos surge quando bactérias se tornam capazes de proliferar na presença de quantidades terapêuticas de um ou mais antibióticos. Essa resistência pode surgir através de diversos mecanismos, como por exemplo, a aquisição de mutações espontâneas durante a pressão seletiva que é imposta pela exposição a antibióticos, e/ou aquisição de material genético que confira essa resistência através de outras bactérias.
![]() |
Pedro Oliveira |
É prática comum em vários países administrar antibióticos a animais saudáveis para consumo humano por forma a acelerar o seu crescimento, ou como medida profilática/metafilática. Ora esta prática tem sido apontada como uma das principais causas de infeções resistentes em animais e humanos. Na União Europeia o uso de antibióticos como estimulantes de crescimento de animais para consumo humano é proibido desde 2006. Apenas mais recentemente, em 2017, a Food and Drug Administration (FDA) introduziu algumas diretrizes no sentido de limitar a sua utilização nos Estados Unidos da América (não sendo claro o seu caráter obrigatório).
PUBLICIDADE
Anuncie no Notícias do Nordeste! Contacte-nos!
Consulte a tabela de preços
De acordo com um relatório , publicado recentemente pela OMS, são as bactérias pertencentes às espécies Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa, e à família Enterobacteriaceae, que globalmente apresentam índices mais elevados de resistência a antibióticos (tipicamente carbapenemos). Ao longo da última década, a sua disseminação alcançou níveis endémicos em várias regiões do globo, incluindo a América do Norte (Estados Unidos), América Latina (Argentina, Brasil, Colômbia), Europa do sul e leste (Grécia, Itália, Roménia), Médio Oriente (Israel), e Ásia (China). Como resposta à crescente ineficácia dos carbapenemos em fazer face a infeções causadas por estas espécies bacterianas, registou-se um aumento significativo na utilização de um outro antibiótico – a colistina.
Uma das suas particularidades é a de pertencer ao grupo de antibióticos designado de último recurso, utilizados no tratamento de infeções que não respondem a outras drogas. Mas mesmo no caso deste antibiótico, as más notícias não se fizeram esperar. Em 2015, foi encontrado em bactérias isoladas de gado suíno na China, o gene mcr-1 que confere resistência à colistina. Pelo facto de este gene ter sido encontrado integrado naquilo que se designa por elemento genético móvel, torna-se mais fácil que seja transmitido a outras bactérias. Desde então, o gene mcr-1 (e outras variantes do mesmo) têm sido encontrados em isolados bacterianos um pouco por todo o mundo, incluindo em várias dezenas de suínos testados em duas quintas produtoras em Portugal . Isto significa, portanto, que as opções de tratamento disponíveis (e eficazes) estão a diminuir.
PUBLICIDADE
Anuncie no Notícias do Nordeste! Contacte-nos!
Consulte a tabela de preços
Decorria o ano de 1945, quando o Nobel Sir Alexander Fleming lançou um alerta referindo-se ao antibiótico que havia descoberto, a penicilina: "o público exigirá a droga e, então, começará uma era de abusos". Passaram-se mais de setenta anos. Precisamos de agir.
Pedro Oliveira
Conteúdo forenecido por Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva