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| |Hélio Bernardo Lopes| |
Aconteceu, porém, que o Presidente da República, a dado passo da sua correnteza interventiva, salientou que, com todo o respeito que lhe mereciam os nossos embaixadores, Luísa e Salvador Sobral seriam embaixadores mais qualificados e mais eficientes do que a generalidade da nossa diplomacia.
Ora, a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses escreveu uma carta ao Presidente da República a lamentar a sua comparação, salientando não poder deixar de lamentar as declarações proferidas pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a propósito da generalidade da nossa diplomacia que colocam em causa a competência e profissionalismo de toda uma carreira especial do Estado, denegrindo a sua imagem e, como tal, a própria credibilidade das instituições públicas.
A referida associação sindical foi ainda mais explícita, porque mesmo que um sucesso musical possa exercer uma influência mais visível e imediata na opinião pública internacional quanto à imagem do nosso país – como referiu o Presidente da República –, a verdade é que as funções diplomáticas não se esgotam nesta vertente promocional. Bom, é uma realidade. Mas uma realidade que o Presidente da República conhece muitíssimo bem, sendo evidente que as suas palavras não poderão nunca ser olhadas como uma crítica à diplomacia portuguesa, antes um acréscimo de exaltação pela vitória portuguesa na Eurovisão.
Com grande oportunidade e razão, o Presidente da República até esclareceu que não se sente nada complexado pelo facto de haver personalidades da Cultura e do Desporto que em muito ultrapassam a projeção internacional do atual Presidente da República Portuguesa. Bom, é uma pleníssima realidade. De resto, vai longe o tempo em que os Beatles declararam, com grande reação do ambiente conservador, que eram mais conhecidos que o Papa. Uma outra realidade.
Tudo isto, porém, não mereceria nunca um texto como este, exceto num ponto, que se materializa nesta adivinha: e se estas considerações do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa tivessem sido proferidas pelo Primeiro-Ministro, António Costa? Recorda-se da evidência da continuação de novos fogos, apontada pelo Primeiro-Ministro, e das reações das nossas carpideiras da grande comunicação social, hoje tocando os seus instrumentos sempre com a mão direita? Como imagina que teriam reagido estas carpideiras da nossa Direita comunicacional – muitas assumiram-se até, em tempos, como profundamente de Esquerda...– se tais palavras tivessem sido proferidas pelo Primeiro-Ministro, António Costa? Se pensar um pouquinho, o leitor tem, neste episódio de abril, um excelente exemplo da duplicidade político-partidária que hoje varre a nossa grande comunicação social.
