A montagem

|Hélio Bernardo Lopes|
Fiquei deveras satisfeito com o desabafo de ontem de Alfredo Barroso, ao redor da cantilena que vem sendo montada em torno do caso Manuel Pinho. Uma montagem com que se procura, objetivamente, atingir o PS, António Costa – seja do modo que for –, os indiscutíveis êxitos da governação, bem como a própria fórmula governativa que, fruto da inteligência de todos, continua a funcionar e bem, agregando o essencial aos portugueses e discutindo o acessório.

Tenho evitado abordar o caso, tal como assim fiz com o que envolve José Sócrates, Ricardo Salgado e todos os restantes, bem como os que se viram envolvidos nos casos BCP, BPN, GES/BES, BPP, etc.. E tenho procedido deste modo por esta natural razão: por um lado, existe ausência de razão suficiente para tratar o PS de um modo singular; por outro, porque tais casos desenvolvem-se – ou desenvolveram-se – no seio do Sistema de Justiça, ficando longe, portanto, de poder opinar, porventura insinuar, o que quer que seja sobre os mesmos.

Não deixa de constituir para mim um fator de extrema graça poder escutar mil e um perorarem sobre o que começam logo por dizer nada conhecer! E é até interessante perceber-se que este caso Manuel Pinho vai já nesta fórmula: se for verdade o que se diz, é um horror!! E será que não se poderia também colocar a questão de saber o que pensar sobre se o Presidente da República – o atual ou outro – desse um tiro num qualquer vizinho do andar inferior ou do superior?!! Para lá de ridícula, esta questão de Manuel Pinho tornou-se já cansativa, sendo que dela não se fala nas convivências correntes. Tal como se dá com o caso Sócrates e restantes acusados ou arguidos, estes temas quase não são tratados. Chego a rir minimamente ao ouvir os nossos canais televisivos garantirem que os portugueses têm o direito de saber o que se passou e querem conhecer tal realidade! Como se alguém viva preocupado com tais eventos!!

O que hoje se passa com este caso Manuel Pinho tem uma causa, aliás projetada em diversas outras circunstâncias. Essa causa reside na intenção estratégica das forças políticas conservadoras de pôr um fim no próprio PS. Estas forças dominam hoje, de um modo muito geral, a grande comunicação social, mormente ao nível televisivo. De resto, esta mesma orquestração pôde igualmente ver-se, por exemplo, no embuste Skripal ou no caso da Síria. Para quem acompanha os nossos noticiários, o resto do mundo parece estar na melhor paz.

Houve um tempo em que o grande risco era apontado como sendo o PCP. Até a embaixada dos Estados Unidos telegrafou para a Secretaria de Estado a mensagem de que existia um político deveras perigoso na Esquerda portuguesa, que era Francisco Louçã. Com um pouco de inteligência, o real poder mundial lá conseguiu perceber que tais perigos já o não eram, tornando-se essencial deitar por terra o PS, de molde a trazer, com armas e bagagens, a Direita neoliberal para o poder, certamente muito longo e, porventura, fortemente irreversível.

Esta nova posição do real poder mundial, muito projetada ao nível da própria União Europeia, também teve um excelente acolhimento no seio do próprio PS, como nos foi dado ver na anterior eleição para o Presidente da República. Teve e continua a ter esse acolhimento, constatando-se o modo ridículo como certa parte dos militantes de referência do PS se deixam levar na mais ínfima casca de banana que lhes é colocada, momento a momento, pala tal grande comunicação social, hoje objetivamente alinhada com a Direita.

Foi com gosto, pois, que tomei conhecimento desta intervenção de Alfredo Barroso – já não está no PS –, mas esperava um pouco mais, ou seja, que apontasse também o dedo a essa franja direitista que hoje está presente no PS e que, num ápice, faz o jogo dos seus adversários, que desejam politicamente reduzi-lo à dimensão dos restantes congéneres europeus. Enfim, temos a democracia...

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