Inteligente, sério e corajoso

|Hélio Bernardo Lopes|
Como normalmente, acompanhei o mais recente TABU de Francisco Louçã, nesta passada sexta-feira, na SIC Notícias, aqui com o académico no Brasil. É um programa que nunca perco, dado que Francisco Louçã é uma personalidade notável da nossa comunidade nacional.

Foi o melhor aluno do seu curso de licenciatura e de mestrado, recebendo aqui um prémio nacional, como por igual por via do seu trabalho de doutoramento, atingindo o lugar de catedrático do ISEG por via de um concurso de provas públicas com mais treze colegas seus, destinado ao preenchimento de quatro vagas, saindo aprovado em mérito relativo. É, portanto, um concidadão muitíssimo dominador da sua área de trabalho, mas por igual uma personalidade de elevadíssima cultura.

Desta vez, e como é usual, tratou uma diversidade de temas, mas foi muito interessante ouvi-lo sobre o tema que envolve o caso do traidor e duplo, Sergei Skripal. Com uma lógica elementar – os nossos jornalistas não conseguem que lhes surja tal ideia simples e imediata...–, o académico salientou estas realidades muito evidentes e elementares: nada foi até agora provado e seria Vladimir Putin de uma fantástica estupidez se fosse agora, depois de ter operado a troca de espiões que permitiu a Skripal deixar a Rússia, mandar assassinar – ainda não morreu e não deve vir a morrer, estimo eu – um tal traidor e duplo, depois de este ter já contado o que sabia às autoridades britânicas. Precisamente o que eu mesmo pude escrever, desde o início, nos meus textos sobre este tema.

Esta intervenção de Francisco Louçã sobre o tema que envolve o traidor e duplo Sergei Skripal mostra que este nosso académico é um concidadão dotado de inteligência, de seriedade e de coragem. Três ingredientes que não abundam no seio da sociedade portuguesa e logo a começar pela classe política que temos, autênticos pigmeus em tal domínio. E teve até a oportunidade de voltar a relembrar o famigerado caso das inexistentes armas de destruição maciça, objetivamente inventadas pela equipa de George W. Bush.

Achei muito interessante o raciocínio elementar, mas extremamente verdadeiro, de Francisco Louçã, que logo me fez recordar as questões que colocou na Assembleia da República ao então Primeiro-Ministro, José Manuel Durão Barroso, com este a ficar exaltado, tentando explicar que um aliado lhe havia mostrado documentos. Como não posso acreditar que Durão Barroso seja um ignorante da História de Portugal da II República, tenho de admitir que sabia já, nesse tempo, que os nossos (ditos) aliados norte-americanos recebiam Holden Roberto com o falso nome de José Gilmore, o que acabou por ser descoberto pelas autoridades portuguesas.

Por fim, uma pergunta: sendo a França também um dos nossos aliados, que razões terão levado os nossos órgãos de soberania a apoiar, ou tolerar, a posição anglo-saxónica em vez de seguirem a da França? Afinal, quem tinha razão eram Hans Blix, Chirac e Villepin. O problema é que a França alumia duas vezes, ao passo que Portugal segue a marcha conveniente aos da frente ou a ditada pela agenda da grande comunicação social, completamente alinhada com a grande estratégia dos Estados Unidos.

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