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|Hélio Bernardo Lopes| |
Acontece, como se perceberá elementarmente, que nem sempre é fácil evitar as intervenções de Ana Gomes, porque as mesmas nos entram em casa em situações relativamente inamovíveis. Ou mesmo por surgirem nas convivências correntes, embora aqui sempre na base de chalaça e sem que às mesmas seja dada credibilidade. E foi por aqui que me chegaram as mais recentes considerações de Ana Gomes.
Nesta sua intervenção mais recente, Ana Gomes surge-nos com a afirmação de que a falta de crédito dos partidos está na origem dos movimentos populistas na Europa e eu não quero que isso aconteça no meu País. Trata-se, porém, de uma afirmação pouco rigorosa, porque existe uma multiplicidade muito ampla de fatores que têm conduzido aos diversos populismos que por aí andam. Tenho para mim que as causas da atual vaga populista se devem ao triunfo neoliberal, ao desprezo pelas pessoas em benefício dos interesses e à cedência completa, em termos de valores dos partidos ditos do socialismo democrático e da social-democracia.
Também Ana Gomes nos refere – é a verdade – que o PS tem muito trabalho bom, designadamente neste Governo, e portanto não pode fingir que não tem este problema terrível na sua história – o dos casos Sócrates e Manuel Pinho. E logo complementa que o PS não pode continuar a esconder a cabeça na carapaça da tartaruga. E termina deste modo, simplesmente fantástico: o próximo congresso do PS é uma oportunidade para escalpelizar como se prestou a ser instrumento de corruptos e criminosos. Mas o que fez, então, Ana Gomes, a fim de que tal não tivesse acontecido? E o que fizeram os restantes detentores de soberania ao redor destes casos, ainda nem julgados?! Sabia Ana Gomes de alguma coisa? E Jaime Gama? E Luís Amado, ou João Soares, porventura o seu falecido pai? Afinal, quem sabia o quê e de quem e sobre que domínios? O PS sabia? Mas o que é o PS?! E os outros partidos também sabiam? Não sabiam? Mas ouviram dizer? Inenarrável!!
Repletas de interesse e de graça, estas suas recentes palavras dizem-nos isto, ao redor do caso que envolve Manuel Pinho: nunca teve dúvidas nenhumas, embora não soubesse nada, só que lhe cheirou mal tudo aquilo, mormente a forma como se fez a um cargo governamental (Ministro da Economia no primeiro governo de Sócrates) e o de ter ligações ao BES. Ou seja, a União Europeia é uma cabalíssima podridão, ao menos em probabilidade, para o que basta recordar Barroso, Monti, o outro senhor grego que antecedeu Tsipras, Constâncio, o que agora o substituiu, Trump, Putin, os britânicos envoltos num escândalo sexual amplo mas nunca finalizado, etc., etc.. Ah, e Marine, Orban, os da Polónia, Berlusconi, Puigdemont, Rajoy, Sarkozy, Chirac, que sei eu mais?!
Sobre o caso português, todavia, é perentória: não há dúvida nenhuma de que o PS se tornou instrumento de vários indivíduos corruptos e com uma agenda de enriquecimento pessoal. Deverá tratar-se de um caso singular, dado que ninguém alguma vez contou algo deste tipo de um outro partido qualquer. De molde que dá esta sugestão ao PS: o partido tem agora de aproveitar o próximo congresso nacional (de 25 a 27 de maio) para fazer uma autocritica, um exame crítico, para que isto não volte a acontecer e desta maneira não só regenerar-se como influenciar os outros partidos, a vida política nacional e a regeneração do País. Uma conversa que me traz ao pensamento as palavras do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa sobre que incêndios como os anteriores nunca mais poderão repetir-se, apesar de um perito norte-americano dizer agora o contrário, que foi o que também disse o Primeiro-Ministro, António Costa.
Por fim, uma nota, num certo sentido a favor de Ana Gomes e contra o PS, com esta ou outra liderança: quem quer que seja, pessoa ou instituição, tem o dever de se defender, pelo que continuar o PS a manter no seu seio uma militante que de si diz o que ninguém mais alguma vez fez do seu partido, não pode deixar de constituir-se numa muito má imagem da dignidade do próprio PS. Estas recentes palavras de Ana Gomes sobre o PS e o que, supostamente, consentiu que tivesse tido lugar no seu seio, constituem um isomorfismo de uma reprimenda humilhante, em público, dada por uma mãe, ou um pai, sobre um seu filho, fruto de certo desacato por si praticado. Ou seja: vai o PS continuar a manter Ana Gomes em funções suas quaisquer, mormente se derivadas de escolha política? Muitos outros, e pelos restantes diversos partidos, não procederam assim.
Há já muitos anos, no domingo em que o PSD de Aníbal Cavaco Silva obteve a sua primeira maioria absoluta, um velho amigo, que veio a ser membro desse Governo, disse-me, a dado passo, no pequeno-almoço que tomávamos no desaparecido Café Ribatejano, referindo-se a um pedido de desculpas públicas a Eanes por parte de Vítor Constâncio: o gajo é estúpido como o caraças, nunca se pede desculpa!! Bom, Ana Gomes não pensará assim...