Estudos anteriores sugeriam que o aumento dos níveis de serotonina torna os animais (incluindo os seres humanos) mais predispostos a esperar por uma recompensa. Por outras palavras, torna-os mais pacientes. Estes resultados eram compatíveis com a ideia, aceite por muitos, de que a serotonina atua inibindo os comportamentos, isto porque em muitos casos a paciência exige adiar uma ação.
É esta ideia que acaba de ser posta em causa por uma equipa internacional liderada por neurocientistas do Centro Champalimaud, em Lisboa. Os seus resultados foram publicados na revista Nature Communications .
Este novo estudo mostra que a serotonina promove mais do que uma espera passiva – mais do que a simples paciência. O aumento dos níveis de serotonina aumenta a persistência ativa na realização de uma tarefa, mesmo em situações em que não há certeza de que se vai receber uma recompensa. Ser persistente significa continuar a desempenhar ativamente uma tarefa, mesmo que ela seja desagradável (como fazer os trabalhos de casa), enquanto muitas formas de paciência só exigem disponibilidade para esperar, sem fazer nada.
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“Tínhamos algumas pistas que sugeriam que o efeito inibitório da serotonina não era generalizado. Alguns comportamentos não eram afetados pela serotonina”, diz Lottem. “Mas nunca tínhamos visto um comportamento ativo promovido pela serotonina. Esta é, tanto quanto sei, a primeira vez que um comportamento deste tipo é observado quando os neurónios produtores de serotonina são ativados.”
A tarefa agora utilizada consistiu em dar aos ratinhos a escolher entre dois locais para beber, cada um situado numa das extremidades de uma caixa retangular comprida. Num dado momento, apenas um destes bebedouros estava pronto para fornecer água, fazendo com que os ratinhos tivessem de andar de uma extremidade para a outra da caixa para receberem água. Para isso, tinham de bater com o focinho no bebedouro.
Na realidade, de forma a simular a imprevisibilidade das situações do mundo real, os cientistas fizeram com que mesmo o bebedouro ativo nem sempre deitasse água. Os ratinhos tinham assim de aprender a tolerar alguns insucessos quando tocavam com o focinho. Isto permitiu à equipa medir a persistência dos animais: para isso, contaram o número de toques que os animais estavam dispostos a dar de forma a tentar obter água num bebedouro “seco” (ou seja, que tinha deixado de fornecer água).
Uma vez a tarefa otimizada, os cientistas utilizaram uma tecnologia chamada optogenética para estimular os neurónios produtores de serotonina através de impulsos de laser transmitidos por uma fibra ótica implantada no cérebro dos animais.
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Zachary Mainen, que liderou o estudo, sugere que os resultados poderão, em última instância, ajudar a perceber melhor como tratar a depressão, uma doença em que a serotonina está envolvida. “A diferença entre a paciência e a persistência pode parecer subtil, mas a implicação deste resultado não o é: pode ser a diferença entre ficar na cama, enquanto lá fora a vida continua, ou saltar da cama todos os dias para abraçar a vida.”
Fundação Champalimaud
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva