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Mitocondria, Paulo Oliveira |
E essa energia está armazenada sob a forma de uma molécula chamada ATP (nada relacionado com o ténis, a abreviatura quer dizer adenosina trifosfato), a qual produzimos e consumimos kilos durante um dia inteiro. Mas voltemos à pergunta inicial…como é que um alimento se transforma em energia sob a forma de ATP? Acalmem-se aqueles que quererão abusar e comer imensos bolos de bacalhau porque “caraças! Está cheio de ATP!”. A história é bem mais maravilhosa e mostra o quão fantástico trabalham as nossas células.
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A mitocôndria é o único organelo, para além do núcleo, que possui o seu próprio ácido desoxirribonucleico (ADN) que codifica parte das proteínas que formam a maquinaria mitocondrial. Este ADN tem uma forma circular e difere do ADN nuclear que é linear. Este facto suporta a teoria de que o aparecimento da mitocôndria na célula teve origem há 1.5 mil milhões de anos, quando uma bactéria aeróbia (isto é, que respira oxigénio, como as nossas mitocôndrias) foi fagocitada (“comida”) por uma outra bactéria. Esta última, em vez de destruir a primeira, manteve-a funcional no seu interior, podendo sobreviver agora num ambiente rico em oxigénio, que é de facto um veneno (vejam o que acontece quando cortamos uma maçã e a deixamos exposta ao ar). Foi de facto desta relação simbiótica que nasceram as mitocôndrias, o que permitiu um salto evolutivo enorme e o facto de estarem a ler este texto.
Mas como é que uma coisa tão pequena produz a energia que precisamos? Sim, porque de facto, a mitocôndria é um organelo muito pequeno, medindo 100 a 1000x menos do que a cabeça de um alfinete. Os mecanismos de produção de energia pela mitocôndria foram descritos nos anos 70 por um investigador inglês chamado Peter Mitchell, que recebeu em 1978 o prémio Nobel em química pela teoria sobre a produção de energia pela mitocôndria.
O mecanismo pelo qual a mitocôndria produz ATP é fascinante. Proteínas embebidas na membrana interna mitocondrial transferem electrões retirados dos nutrientes até ao oxigénio, sendo este convertido a água (a verdadeira respiração). Neste processo, protões (H+) existentes no interior da mitocôndria (a “matriz”) são deslocados para o espaço entre as duas membranas mitocondriais. É assim formado um gradiente de protões que é depois usado por uma outra proteína membranar para produzir ATP, análogo a uma barragem hidroeléctrica.
Esta proteína produtora de ATP (“ATP sintase”) é o sonho de qualquer engenheiro, já que o fluxo de protões desencadeia uma resposta mecânica com rotação de uma das suas partes, levando à produção de ATP. Se ainda não estão convencidos do quão extraordinário é este fenómeno, saibam que o gradiente de protões formado na mitocôndria tem uma componente eléctrica de cerca de 200 milivolts.
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E o que pode afectar a saúde das nossas mitocôndrias? Muita coisa, de facto…cada vez mais sabemos que o ambiente (poluição, por exemplo) e os estilos de vida actuais contribuem para causar danos nas mitocôndrias nos diversos órgãos. Fumo do tabaco, excesso de consumo de bebidas alcoólicas, uma alimentação com excesso de gordura e sobretudo de açúcar, entre outras causas, podem levar a uma progressiva perda da capacidade mitocondrial para produzir energia. Por outras palavras, a nossa pilha vai perdendo carga. E todos sabemos o que acontece quando as pilhas se esgotam (geralmente “babam-se” e estragam o nosso aparelho favorito…). Aliás, não é à toa que o envelhecimento tem associado uma série de doenças que afectam o sistema nervoso central, o sistema cardiovascular, rins, fígado e outros órgãos. Sabe-se que à medida que envelhecemos, vamos também perdendo robustez mitocondrial até que a quebra de produção de ATP torna insustentável a viabilidade das células mais afectadas.
Mas nem tudo é mau. Podemos manter as nossas mitocôndrias mais tempo saudáveis de modo a continuarem a energizarem a nossa vida. E isso faz-se com alimentação adequada (nada de excessos), descanso em quantidades q.b. e sobretudo actividade física. Passar o dia sentado e comer alimentos ricos em gordura e sobretudo (muito mais importante) com excesso de açúcar não faz nada bem às nossas pilhas! E mais cedo ou mais tarde vamos sofrer com isso.
Paulo J. Oliveira
Conteúdo fornecido porCiência na Imprensa Regional – Ciência Viva