O nefando papel presidencial

|Hélio Bernardo Lopes|
À medida que o tempo político vem passando, sobretudo agora, já com Pedro Passos Coelho fora da liderança do PPD/PSD e depois daquele significativo almoço com Pedro Santana Lopes, vamo-nos dando conta de que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa se está a transformar num obstáculo crítico, com ou sem razão, aos atos praticados pelo Governo de António Costa, apoiado pelo Bloco de Esquerda, PCP, Verdes e, naturalmente, PS.

Depois da prática populista dos afetos, de pronto apresentada pelos comentadores televisivos como destinada a alargar a sua base de apoio, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, quase sem apoiar os êxitos da atual governação, a cada momento critica, mais ou menos veladamente, a ação do mesmo. Desta vez coube a sorte ao diploma da ajuda aos que se viram atingidos pela má sorte da vida.

Como pude já escrever, o Presidente da República até chegou a fixar o Natal, em plena via pública, como data limite para a reconstrução das casas ardidas nos três primeiros concelhos atingidos. Mas logo ali se deu conta de que construir um edifício, mesmo pequeno, requer um tempo que não se compadece com a prática populista dos afetos.

Bom, o tempo continuou a correr, e a chuva quase não voltou. De molde que me surgiu a ideia de que, também aqui, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa nos iria prendar com uma das suas infindas ideias, a fim de se conseguir o que todos parecem desconhecer, mostrando-se mesmo incapazes de resolver este terrível problema. E foi o que esperei do Presidente quando o vi na barragem de Fagilde: aí vem uma das soluções dele... Debalde. Afinal, limitou-se a repetir o que acabara de ouvir, mas não marcando data alguma. E, de facto, também da primeira vez marcara o Natal, mas logo percebeu que construir edifícios tem o seu quê, não se limitando a escrever doutrinas sem aplicação nem realidade.

Percebe-se hoje, já sem Pedro Passos Coelho na liderança do PPD/PSD e depois do almoço com Pedro Santana Lopes, que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa se vem transformando numa espécie de grão poliédrico a dificultar o avanço da engrenagem da governação. Com Pedro Santana Lopes à vista, vem-se reforçando a erradíssima ideia dos pactos de regime, sem que o PS saia a terreiro, mostrando que tal ideia é incompatível com a prática democrática.

E muito menos explicando que os tais pactos que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa defende, pelo lado do CDS/PP e do PPD/PSD – a Direita neoliberal de Portugal – se reduzem, em última análise, a pôr um fim na Constituição da República, no Sistema Político e no Estado Social. Que tudo isto é assim, bom, conhece o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa muitíssimo bem, mas a verdade é que os seus pontos de vista políticos são os do PPD/PSD.

Se tais pactos de regime fossem operados, num ápice, um novo Governo da Direita voltaria aa fazer o que fez a anterior Maioria-Governo-Presidente. E cuidado com as cheias, ou com minitornados, ou outras intempéries, porque logo surgirá nos televisores o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a pedir ao Governo o que CDS/PP e PSD nunca fizeram. Mesmo, até, o impossível, como se viu com aquela sua ideia de tudo estar pronto até ao Natal, embora não tenha indicado a solução para a falta de chuva.

Infelizmente, o papel do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, em boa e evidente verdade, está-se a transformar num papel absolutamente nefando, sempre criticando a ação do Governo e, certamente por acaso, sempre aí apoiado pelo PPD/PSD e pelo CDS/PP. E o leitor: encontra neste comportamento político de Marcelo Rebelo de Sousa uma qualquer consonância político-partidária com a Direita de hoje – CDS/PP e PPD/PSD –, ou não?

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