![]() |
|Tânia Rei| |
No fundo, neste e noutros anos, todos procuramos uma vida cheia. E não tenho a certeza do que é ter uma vida cheia. É ter trabalho, amor e saúde? É ser bem-sucedido? É sentir-se feliz? E o que precisamos para nos sentirmos (não sermos sempre, mas sermos em momentos) felizes? É uma pescadinha de rabo na boca, porque para tudo isto, precisamos de uma vida cheia.
Tenho medo, e, por favor, partilhem este medo comigo, de olhar para trás e perceber que tive uma vida cheia... de nada.
Enquanto nos preocupamos em amealhar coisas para encher o saco da vida, parece-me que vamos deixar cair relíquias sem que nos apercebamos. E veio-me a imagem mental de um ladrão, com uma saca de serapilheira, que espalha pelo chão cálices de ouros cravejados de diamantes, ao passo que só consegue amealhar moedas de pouco valor e de metal duvidoso.
E, ainda falando nesta analogia, mesmo um saco cheio, a transbordar, não é sinal de um bom saque, de uma colecção digna de se orgulhar.
Uma vida cheia é, no meu entender, semear diamantes por onde passamos, mais do que apanhá-los. Deixar um halo de actividade, que indicie que estivemos ali. Uma vida cheia é não deixar ninguém para trás, levar os bons connosco de rojo, debaixo de um braço se for preciso. Uma vida cheia é fazer o que nos deixa felizes, para estarmos felizes e sermos felizes. E fazermos alguém feliz.
Uma vida cheia é não nos esquecermos de quem somos, de onde viemos e para onde queremos ir. É pegar em frases feitas e insuflar-lhes o sentido. Antes que seja tarde, vou olhar para trás e ver se deixei, acidentalmente, escapar um cálice valioso, uma jóia de incalculável valor. Ainda que não seja bom, talvez, pensar no passado, é melhor dar dois passos atrás do que não ter caminho para a frente.
Uma vida cheia, é, no fundo, ter o que sonhámos. Não de forma idílica, mas uma vida feita dos sonhos mutantes, que a cada dia nos empurram mais para a frente do que para trás, mesmo quando por lá não vemos lá estrada alguma.