É verdade, a SEDES!!

|Hélio Bernardo Lopes|
Volta que não volta, após longos períodos de ausência, surge-nos a SEDES, como que proveniente de um mundo estranho e pouco entendível. E a experiência mostrou, quase sempre, que também do seu lado não vem bom vento nem bom casamento. Invariavelmente, sem realmente nada resolver, a SEDES acaba por criar instabilidade política.

Uma análise histórica simples mostra esta realidade muito evidente: trata-se de uma estrutura comandada, de facto, por concidadãos conservadores ou de Direita, sempre do lado da democracia, mas desde que esta não tenha determinado uma qualquer escolha política da Esquerda. Mas também comporta concidadãos que, pelo acaso da História, acabaram por optar, em certa fase da vida, pela dita Esquerda, tendo decidido por aí se manter, mas muito aquém da correspondente prática. Entraram, pouco se mostraram, mas não mudaram de posição política. De facto, estamos longe da França, e mesmo dos Estados Unidos.

Pois, num destes dias aí nos surgiu a SEDES, agora que os políticos do PSD, defendendo abertamente o regresso ao desastroso passado que criaram aos portugueses – também eles sonharam que a sua prática tinha vindo para ficar –, se esganiçam com o aproximar das eleições autárquicas e quando o Governo de António Costa soma, contra ventos e marés da nossa Direita e seus adesivos, uma sucessão de êxitos que parecem suceder-se sucessivamente sem cessar.

Nós já tínhamos tido a possibilidade de ir ouvindo os tais órgãos de controlo económico e financeiro, apontados como independentes, mas faltava, de facto, a SEDES. A verdade é que raros alguma vez deram pela sua ausência prolongada, porque esta é o seu estado costumeiro. E, como digo antes, quando aparece, invariavelmente, não traz bom vento nem bom casamento.

Acontece que há um velho ditado popular digno de registo, a cuja luz se se souber com quem se anda, percebe-se de quem se trata: diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. E foi esta realidade que, por via da associação de ideias, se materializou agora no meu espírito, ao saber que três oradores principais deste encontro da SEDES haviam sido Vítor Bento, Luís Campos e Cunha e João Duque. Um terno que me permitiria aqui dizer, à laia de brincadeira, fim da demonstração.

Assim, Vítor Bento veio dizer-nos que a economia portuguesa está no bom caminho, mas não se deve embandeirar em arco e, sobretudo, não se estragar o que funciona bem, dado que a riqueza produzida ainda está abaixo dos níveis antes da crise. E completou: é preciso não dar cabo das contas públicas, mantendo a tendência de crescimento. Ou seja, as coisas eestão bem, mas é essencial no as estragar. Um raciocínio que costuma sintetizar-se com a regra do cravo e da ferradura.

Mas se Vítor Bento nos expôs este seu pensamento, já Luís Campos e Cunha nos veio referir que não se pode perder o ritmo de consolidação orçamental, porque a futura saída do Procedimento por Défices Excessivos é só o primeiro passo na direção certa, mas o trabalho não está feito. Ou seja, a tal regra do cravo e da ferradura, mas enunciada com ligeiras diferenças face a Vítor Bento. Até porque se impõe ter em conta o endividamento público, uma vez que o Estado tem de receber mais do que gasta. No fundo, o que sempre fez Salazar, como bem se sabe. Simplesmente, este académico tem medo de alterações nas leis laborais. Presumo que também terá tido este sentimento quando foi aumentado o valor do Ordenado Mínimo Nacional. Em todo o caso, a ser assim, esse medo já se desvaneceu.

Por fim, um outro académico: João Duque. Neste caso tudo se ficou por críticas ao processo de regularização dos precários do Estado, considerando que se vai fazer a entrada de milhares de trabalhadores na administração pública sem refletir sobre o que se quer oferecer à sociedade e sem avaliar as necessidades do Estado. Neste caso, ou há um erro de apreciação, ou há um problema mal formulado.

Acontece que a resposta à questão de se decidir sem refletir sobre o que se quer oferecer à sociedade simplesmente não é verdadeira nem falsa. E a referência a não se ter avaliado as necessidades do Estado, bom, representa um tipo de visão demasiado tecnocrática, até por não se conhecerem as necessidades do Estado. Se estas corresponderem a algo unitário e bem definido, apenas Deus lhe tem acesso. A política não é assim em parte alguma do mundo, sendo imensamente mais complexa que os modelos decisórios estudados nas academias.

A verdade, ao que pude ler, é que , quando questionados sobre o que nas medidas do Governo os leva a estarem preocupados com uma eventual perda do ritmo de controlo das contas públicas, nenhum economista explicitou o seu pensamento. Simplesmente tal posição é absolutamente natural. Portanto, caro leitor, vá estando atento aos novos movimentos da SEDES, invariavelmente criadores de instabilidade política. Vamos esperar para ver.

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