Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados com resposta “insuficiente”

A qualidade da morte é um dos temas em destaque no 23º Congresso Nacional de Medicina Interna, que vai reunir, na Alfândega do Porto, entre 25 e 28 de maio, internistas de norte a sul do País, naquela que é a mais importante reunião destes especialistas.

Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados com resposta “insuficiente”
“A qualidade da morte é um parâmetro, um índice de qualidade assistencial. Saber que, na altura de morrer, o doente tem direito a cuidados paliativos, tem uma adaptação da terapêutica à sua fase terminal, lhes estão a tratar os sintomas com dignidade é fundamental”, refere João Araújo Correia, presidente do congresso.

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Um tema que, de resto, tem direito a uma mesa redonda (‘Dor total e cuidado total - Limites do sofrimento humano a papel da equipa de saúde’), no dia 26, onde será debatido o alívio do sofrimento e o papel da equipa médica nesse mesmo alívio. “Fala-se muito atualmente na questão da obstinação terapêutica - darmos fármacos que não alteram em nada o prognóstico, tendo por vezes apenas os efeitos colaterais das drogas, sem qualquer benefício para o doente -, mas também na obstinação diagnóstica”, confirma João Araújo Correia. O especialista refere-se aqui ao que os ingleses definem como ‘overdiagnosis’, “a obstinação por procurar um diagnóstico sem que, à partida, o doente vá beneficiar. É uma coisa meramente académica. Não se deve fazer uma biópsia ou colocar um cateter venoso central quando, na prática, o doente não vai ganhar nada com isso. E mesmo que ganhe mais um dia, é mais um dia de sofrimento”.

João Correia Araújo fala, a propósito dos cuidados aos doentes, na questão da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, tema que será também abordado no congresso, questionando a sua resposta, que considera “insuficiente”. Para além das dificuldades que para colocar um doente nesta rede, considera mais “dramático” ainda os tempos de espera - 47 dias, em média - depois de cumpridos os critérios e de aceites os doentes. “A demora é da tal ordem que apenas 56% acabam por ir. Os outros 44% morrem no hospital. E depois, dos que conseguem chegar à rede, cerca de 30% voltam a ser internados. Ou seja, os doentes acabam por piorar na própria rede”, refere, citando os dados de um estudo que será apresentada no encontro.

“Isto levanta duas coisas, em que se devia pensar seriamente: não temos uma adequação entre as vagas que precisamos para os doentes que temos na rede. E como ela não existe, o tempo de espera é demasiado longo. No meu serviço, mensalmente há cerca de 25 camas permanentemente ocupadas por doentes e por razões não clínicas. Podiam ter alta mas ou estão à espera da rede, ou de ir para um lar”, refere o diretor do Serviço de Medicina do Centro Hospitalar do Porto.

Para dar resposta a estas questões é fundamental, reforça, “haver mais camas na rede, para que haja uma resposta mais célere”. Para além deste, acrescenta outro aspeto, os meios. “É preciso, por isso, que a rede seja dotada de meios mínimos. Quem lá está são profissionais de saúde mais jovens, o que justifica que 30% dos doentes, que são muito complexos, voltem ao hospital. E, segundo as regras, se o doente estiver mais de sete dias internado na sequência dessa agudização, perde a vaga e tem que ser reiniciado todo o processo. ”

Cooperação entre MI e MGF

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A relação entre a Medicina Interna (MI) e a Medicina Geral e Familiar (MGF), ou melhor, “a falta de ligação entre estas duas grandes especialidades” é outro dos temas em destaque no congresso. Até porque, defende João Araújo Correia, essa é “uma das grandes fragilidades do Serviço Nacional de Saúde. É exatamente por isso que 95% dos internamentos nos serviços de medicina se fazem a partir do serviço de urgência”.

De acordo com o especialista, “o hospital trata o doente crónico, que é internado e depois fica em ‘hospitalite’ e nunca mais de lá sai. E na doença aguda as coisas também não funcionam bem do lado da MGF, porque estes médicos perderam a apetência pela doença aguda. É o próprio médico de família que manda o seu doente à urgência”. João Araújo Correia considera ainda que “os médicos de medicina geral e familiar convenceram-se que tratam fundamentalmente doentes crónicos (hipertensos, diabéticos, etc.) e que também fazem rastreios, tudo com tempo, com consultas daí a uns meses”. Há, segundo o especialista, que criar incentivos para o tratamento da doença aguda nos centros de saúde.

E há também que criar canais de comunicação entre as duas especialidades, citando exemplos vindos de fora para lidar com os problemas que por cá enfrentamos. “Em Lugo, Espanha, os internistas vão uma vez por semana aos centros de saúde e tomam conhecimento dos doentes que estão a preocupar mais os colegas. Na Andaluzia, o doente tem um médico de família e tem o chamado internista de referência.”

Considera que Portugal está, nesta matéria, “na cauda da Europa”, mas refere-se ao que pensa ser “um começo: a abertura, pelo Ministério da Saúde, de um concurso, no âmbito de um programa de integração dos doentes complexos, em que disponibiliza fundos para que se promova essa integração, mediante projetos apresentados entre os centros de saúde e os hospitais”.

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