A Caixa em Almeida

|Hélio Bernardo Lopes|
Só hoje me determinei a escrever algumas linhas sobre o encerramento das instalações da Caixa-Geral de Depósitos na Vila de Almeida, sede do concelho com o mesmo nome. Uma realidade para que tinha sido alertado há perto de uns dois meses. Sempre pensei que esta ideia seria oriunda da anterior administração, mas adotada, com ligeiras modificações, pela atual.

Pelo início das manifestações recentes de almeidenses foi possível escutar do Vice-Presidente da Câmara, José Alberto Morgado, a informação de que este caso é único ao nível da sede de um concelho, o que terá sempre de ser sentido como uma atitude de humilhação para com o concelho e as suas gentes.

Esta afirmação tem continuado a ser repetida, o que me assegura o respetivo valor de verdade. De resto, a mesma não foi, neste aspeto, nunca desmentida. Ou corrigida.

Acontece que me encontro casado em Almeida, apesar de ser lisboeta. O que significa que conheço muito bem a realidade almeidense. Além do mais, tive como grande amigo, ao longo de muitos anos, um antigo líder da autarquia, hoje já falecido, o histórico almeidense, Tó Sousa, por acaso nascido em Vilar Formoso.

Com Tó Sousa visitei as então vinte e nove freguesias do concelho, bem como as antigas seis aldeias anexas, que não eram freguesias. Era o caso, entre outras, de Monte da Velha, anexa da Freguesia da Amoreira. E acompanhei o grande volume de obras públicas que foram sendo construídas sob a liderança de Tó Sousa, em geral absolutamente essenciais a uma vida digna e moderna.

Como se tem podido ver, o concelho encontra-se entre a desertificação e o envelhecimento das suas gentes. Realidades que determinam a necessidade de um amparo grande aos moradores do concelho. Muito em especial aos da vila de Almeida, por apresentar uma população residente ainda razoável e por na sede do concelho se situarem a generalidade das estruturas públicas.

Ora, num destes dias foi possível ouvir brandir a ideia de que a Caixa-Geral de Depósitos tem de ser lucrativa, não podendo continuar a dar prejuízos continuados e cumulativos. Simplesmente, este aspeto diz respeito à globalidade da instituição, não a todas as suas partes. Basta ter presente, por exemplo, que a Caixa-Geral de Depósitos, com elevada probabilidade, apoiará atividades culturais, mesmo desportivas, mas sem fins lucrativos, ou seja, por via de verbas que darão prejuízo, ou que baixarão os seus lucros.

O que se terá de aplicar, desde que se use a lógica das coisas, a algumas agências que possam dar prejuízo é o mesmo raciocínio antes referido para os setores da cultura e do desporto: a esmagadora maioria das agências terá de ser lucrativa, mas poderão existir casos em que o não seja. O que é certo é que uma enorme parte da população residente em Almeida deixará de poder fazer as suas tarefas como até aqui, porque se trata de pessoas com elevada dificuldade de adaptação às linguagens tecnológicas dos nossos dias.

Por fim, uma pequena nota mais. Tanto o Presidente da Câmara, António Batista Ribeiro, como o Vice-Presidente, José Alberto Morgado, são superiormente adestrados na vida política e no funcionamento das instituições para se determinarem a organizar uma manifestação quando vinham ao encontro com a liderança administrativa da Caixa-Geral de Depósitos! No que agora sou levado a crer é que a Administração da Caixa-Geral de Depósitos aproveitou a circunstância da dita manifestação para evitar o referido encontro programado, até porque estaria – deverá estar – muito longe de possuir sensibilidade perante as dificuldades dos mil e um velhotes que vivem lá por Almeida. De molde que é bom que se perceba esta realidade de há muito evidente: os gestores de topo destes dias atuam como agora se está a ver. E é contra isto que o Papa Francisco bem se tem batido. Como se vê por mais este caso, sem sucesso.

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