A maratona das Autárquicas

|João Pedro Batista|
Apesar de estarmos, ainda, a quatro meses e pouco das Eleições autárquicas portuguesas de 2017, a correria pelos postos políticos ora nas câmaras ora nas freguesias há algum tempo que começara.

Pela azáfama que se começa a denotar na procura de uma proximidade, até agora inexistente, dos ditos atores políticos junto dos cidadãos ou eleitores, diria que está “oficialmente” aberta a época, ainda que por pouco tempo, dos abraços, dos beijos e dos apertos de mão fortes dos autarcas aos seus fieis amigos eleitores.

Embora esta tese corrobore, de uma forma ou de outra, o que se irá passar em todas as câmaras e juntas do país, acredito que se aplique, essencialmente, às autarquias que representam um espaço e/ou região mais desfavorecida, reduzida e com menos eleitores.

Sem querer abordar ainda essas regiões, pensemos, primeiramente, nas eleições autárquicas portugueses de modo abrangente. É, pois, sabido por todos, que estas eleições servem, hoje, de pretexto para os grandes “tubarões”, até agora em lista de espera, poderem ocupar cargos camarários e construir uma carreira política que assegure não apenas financeiramente a sua família, mas também a de alguns “peixinhos”, não a de todos, que deram o corpo às balas por estes candidatos, na procura de chegarem, um dia, a ocupar os cargos que estes “tubarões”, durante a campanha eleitoral, num meio discreto e “familiar”, lhes prometeram.

 As autarquias portuguesas encontram-se, atualmente, reduzidas à procura incessante, não apenas dos candidatos políticos, mas de todos, de um cargo político ou de um outro que equivale esse rendimento, sem que se manifeste alguma complacência social e cultural pela região. Estas eleições, mais do que as legislativas, são constituídas por candidatos vira-casacas que manifestam um vazio ideológico-partidário nunca antes visto.

A lei que veio a limitar o número de mandatos, proibindo que um autarca se mantenha no poder por mais de 3 mandatos consecutivos e/ou 12 anos, impulsionou, de certa maneira, que essa “troca-de-camisa partidária” se viesse a verificar cada vez mais. Hoje em dia, são vários os autarcas que se candidatam por outra câmara exercendo o mesmo cargo, quer por outro partido quer pelo mesmo, de forma a contornar a lei e a manter, única e exclusivamente, um elevado cargo político.

Mais: para além do vazio ideológico e dos vira-casacas, verifica-se, ainda, a continuidade de um legado inquebrável e fortemente guarnecido que vai passando de “tubarões” para “tubarões” que se alimentam sempre das mesmas presas.

Agora voltando às regiões manifestamente mais pequenas, ou seja, com um menor número de eleitores, a situação altera-se ligeiramente. Além de não haver qualquer ligação ideológica dos candidatos com o partido que representam, faz-se uso de uma técnica infalível que ultrapassa qualquer programa eleitoral.

Para se ganhar as eleições, por exemplo numa freguesia com menos de 1000 eleitores, basta identificar alguns “tubarões”, que ocupem cargos de “renome” na sociedade, para encabeçar a dita lista e passar, posteriormente, a uma seleção rigorosa de cidadãos, que advenham de grandes famílias, não importa qual a sua vocação político ou quais os ideais que os compõem, mas o número de votos que conseguem captar, para pertencer à dita e glamorosa lista.

Este procedimento, nestes casos, elimina, desde logo, o aparecimento de novos líderes locais, por muito que estes sintam vontade e paixão para levar a cabo ações que melhorem essa região.

Por último, resta-me frisar que a receita para ganhar eleições autárquicas se encontra acima transcrita, não esquecendo que, tal como sucede com os bolos, caso queiramos servir mais fatias ou um bolo maior basta adequar a dose.

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