Orwell cada dia mais próximo

|Hélio Bernardo Lopes|
A menos de quatro meses de completar os meus setenta anos de idade, constato, dolorosamente, a concretização das previsões de Aldous Huxley, com o seu ADMIRÁVEL MUNDO NOVO, como também de George Orwell, este através do seu histórico 1984. Desta vez por via de uma notícia de ontem, a cuja luz uma empresa sueca tem vindo a implantar microchips nos seus funcionários. É a montagem do 1984 ao vivo.

O estranhamente espantoso desta prática é que ultrapassa já a centena e meia o número de funcionários da empresa em causa que pediu para experimentar este mecanismo objetivamente desumanizador e por cuja expectável expansão o mundo passará a ser uma autêntica penitenciária global. Tratando-se de uma empresa sueca, insto os leitores a acompanhar a segunda série, OPERAÇÃO ABUTRES, que se iniciou na passada segunda-feira, na RTP 2, e que terá hoje o seu quarto episódio. Tal como referi sobre a primeira série, é uma obra que vale a pena acompanhar, porque a plena liberdade nas sociedades atuais é cada dia mais escassa. Embora, a uma primeira vista, possa não se perceber.

O argumento central em defesa desta iniciativa, por enquanto apenas opcional, é o de que a mesma substitui um monte de coisas que transportamos, (como) outros dispositivos de comunicação, cartões de crédito ou chaves (diversas). Trata-se, porém, de um mero argumento, porque a experiência vem mostrando que tudo vai falhando, de um modo frequentemente aleatório, com as ditas novas tecnologias. Hoje mesmo, tal como já ontem, cheguei à paragem do autocarro sem que esteja a funcionar o indicador do tempo de espera de cada carreira. As novas tecnologias...

Trata-se, todavia, de um falso argumento e que até pode trazer terríveis dissabores a quem se determine, por exemplo, a viajar pelo mundo. Nada garante que numa entrada nos Estados Unidos, ou no espaço de língua inglesa, os assim abrangidos não se vejam envoltos em terríveis complicações, sem que possam deitar mão de uma ajuda atempada e adequada. Nada é aqui novidade.

A este propósito, Ben Libberton, microbiólogo do Instituto Karolinska de Estocolmo, alerta para os perigos face aos hackers que, com estes chips, podem conseguir obter informação confidencial, dado que passa a ser possível obter informação sobre saúde, hábitos, como sobre a frequência com que cada um costuma estar a trabalhar, quantas pausas se faz e outras coisas similares. Um verdadeiro controlo escravizante.

Por tudo isto, recordo com amargura a minha velha e forte esperança dos tempos finais do liceu e da universidade, em que acreditava na manhã libertadora da ciência e da tecnologia, constatando hoje que tudo se transformou num autêntico logro que está a trazer-nos o tempo escravizador previsto por George Orwell no seu 1984.

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