E se a verdade não for exatamente essa?
Um grupo de geólogos neozelandeses anunciou recentemente ter encontrado provas de que a terra tem um sétimo continente. E até já têm um nome para ele: a Zelândia. O novo continente fica localizado no oceano pacífico, junto à austrália, e tem 4,9 milhões de quilómetros quadrados (o equivalente ao território da Índia). Inclui as ilhas a Nova Zelândia, da Nova Caledónia bem como outras pequenas ilhas. No entanto, 94% do seu território está submerso nas águas do oceano Pacífico.
O leitor estará neste momento a perguntar-se, e com razão: mas estando debaixo de água, como pode ser um continente?
Isto acontece porque o que define um continente, do ponto de vista geológico, não é o facto de estar emerso, mas sim as características geológicas do território. Os continentes apresentam rochas ricas em sílica diversas, ígneas, magmáticas e sedimentares, enquanto os oceanos são constituídos quase exclusivamente por basaltos. A crosta continental é mais espessa e menos densa que a oceânica. Outro factor que diferencia os continentes dos oceanos é o facto de o território dos continentes estar elevado relativamente ao dos oceanos.
PUB
E como pode haver um continente que não conhecíamos? Estava escondido, nasceu do nada? Nasceu? Será que os continentes também nascem? A Zelândia nasceu, de facto, mas não foi agora. Tal como um bebé demora nove meses a desenvolver-se na barriga da mãe, também os continentes precisam de tempo para se desenvolverem. Um continente demora milhões de anos a formar-se. Este começou a formar-se a 100 milhões de anos, quando a Gondwana, um supercontinente contemporâneo dos dinossauros, começou a fragmentar para dar origem aos continentes atuais.
Esta situação, de se identificar crosta continental submersa, não é inédita. No ano passado foi editado o novo mapa de Portugal, que inclui Portugal continental, as ilhas Atlânticas dos arquipélagos da Madeira e dos Açores e a plataforma continental, que corresponde à zona junto à costa portuguesa que está submersa nas águas do atlântico, mas que contém crosta continental.
Este novo mapa resultou de anos de investigação que envolveu diversas instituições públicas e dezenas de investigadores. O alargamento da plataforma continental trará a Portugal benefícios financeiros diversos, já que o país ganha direitos de soberania sobre este território para efeitos de exploração e aproveitamento de recursos naturais, minerais ou seres vivos existentes no fundo do mar e no subsolo. A proposta portuguesa de alargamento da plataforma continental está neste momento a ser analisada pela Comissão de Limites de Plataforma Continental da Organização das Nações Unidas (ONU).
Como vê, caro leitor, a ciência está constantemente a evoluir e a descobrir novo conhecimento e na natureza nem tudo o que parece é. Quem sabe se em poucos anos os seus filhos não aprenderão na escola que a terra tem 7 continentes?
Catarina Loureiro (Geóloga e comunicadora de ciência)
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva