À beira de Knockout

|Hélio Bernardo Lopes|
Por uma razão que deverá prender-se com a agitação carnavalesca da minha neta, primas e amigas, não me terei dado conta da entrevista que ontem iria ter lugar pelo final do noticiário da TVI, pela hora do jantar.

De molde que esta se constituiu para mim numa autêntica surpresa, mas que consegui acompanhar desde o seu início, bem como o comentário de Constança Cunha e Sá, que logo se lhe seguiu, mas já na TVI 24. E hoje mesmo, em pleno café, pouco depois das dez, tive a oportunidade de suscitar conversas sobre o tema com conhecidos diversos que foram surginndo, à luz de um ritmo quase diário no ano.

Em primeiro lugar, tornou-se muito evidente o mau desempenho de Judite de Sousa, porque o seu modo de colocar os temas em causa esteve muito longe de seguir o natural direito de resposta e esclarecimento de José Sócrates, em face do que Aníbal Cavaco Silva escreveu no seu QUINTA-FEIRA E OUTROS DIAS, e depois abordou na longa entrevista de Vítor Gonçalves, na RTP 3.

Erradamente, Judite de Sousa foi sempre tomando as afirmações de Aníbal Cavaco Silva como dados verdadeiros. E errou muito, misturando datas e acontecimentos. De resto, ela também deveria ter tido em conta que Jorge Lacão já havia exposto a sua leitura cronológica de certos acontecimentos, embora também não apoiado aí por Fernando Teixeira dos Santos. Simplesmente, este é um catedrático de Economia da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, tendo sido muito elogiado no recente livro do antigo Presidente da República. O contrário, precisamente, do que, em tempos, disse Diogo Freitas do Amaral em entrevista em certo canal televisivo.

Em segundo lugar, José Sócrates foi de uma clareza realmente inexcedível, muito acima das considerações gerais que nos expôs Aníbal Cavaco Silva. No livro e na entrevista recente. Uma entrevista – a de ontem – que colocou o que nos tem vindo a ser dito por Aníbal Cavaco Silva à beira de um verdadeiro knockout histórico-político. E devo dizer, de quanto sempre pude acompanhar, que nem por um segundo tributo mais crédito a Aníbal Cavaco Silva que a José Sócrates. Muito pelo contrário. E tal nada tem que ver com simpatias, política ou pessoal, ou com opção partidária.

Em terceiro lugar, o antigo Presidente da República tinha duas obrigações, facilmente percetíveis. Por um lado, ser-lhe-ia simples perceber que este livro iria sempre ser entendido como um ajuste de contas com José Sócrates, nunca como uma prestação de contas. E, por outro lado, o modo como aborda os mais diversos temas passados às quintas-feiras e noutros dias nada tem que ver com o modo como sempre são escritos textos de explicação histórica por parte de verdadeiros estadistas. Se Aníbal Cavaco Silva tiver na sua biblioteca algumas destas obras, terá já visto que as coisas são como aqui descrevo.

E, em quarto lugar, pode agora já comprovar-se que a iniciatica de Aníbal Cavaco Silva, na sua objetiva infelicidade política, só está a servir para que se desenvolva um inútil diz tu, direi eu. Ou seja, tudo se acabará por saldar num desencanto, ainda maior, com o mecanismo da democracia e com o valor que possa atribuir-se ao Movimento das Forças Armadas, à Revolução de 25 de Abril e ao desenvolvimento da III República. Mas com esta agravante: Aníbal Cavaco Silva só acaba por destruir, ainda mais, a má imagem com que deixou a vida política. Enfim, um mau e completamente inútil serviço à democracia, à III República e a Portugal.

Por fim, um dado que não tem sido muito referido: se é verdade que Cavaco não irá voltar à política ativa, creio também o ser que a perturbação da nossa vida político-social poderá continuar a ter lugar, por via de novas obras de sua autoria, certamente tão historicamente inúteis como esta. O próximo alvo, quase com toda a certeza, será o encómio da governação de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, tentando desacreditar o atual Governo de António Costa, suportado no impensável para Aníbal Cavaco Silva. E mesmo Marcelo deve cuidar-se...

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