E a coisa prossegue

|Hélio Bernardo Lopes|
É hoje muito difícil deixar de olhar para o ambiente noticioso, porque as novidades mais inimagináveis surgem-nos a cada esquina. E varrem todo o leque de domínios da vida em comunidade.

Se ainda há dias se falava da dita mentirinha do excecional Ministro das Finanças, Mário Centeno, num ápice nos surgiu o novo caso dos dez mil milhões. Simplesmente, este caso quase não chegou à fervura, porque já hoje se soube que, alegadamente, os registos cardíacos efetuados à grávida que perdeu a bebé no hospital Sousa Martins se extraviaram. Para mim, tudo está agora em saber qual será a novidade da noite. Ou mesmo da pós-meia-noite.

Há já mais de uma década – talvez até duas –, tive a oportunidade de escrever que a ordem jurídica portuguesa é uma borracheira. Um sentimento que não parou de crescer desde esse tempo já longínquo. E o que logo me ocorreu ao tomar conhecimento desta notícia foi o que se contém no preâmbulo da Lei 8/75, vulgarmente conhecida por Lei da PIDE. Lê-se nesse preâmbulo que a ninguém era lícito desconhecer os graves crimes cometidos pela PIDE/DGS e polícias predecessoras.

Vem isto a propósito do que irá dar-se agora com este desaparecimento dos tais registos cardíacos efetuados à grávida que perdeu a bebé no hospital Sousa Martins. Ou se apontam responsáveis e estes são acusados e condenados pela responsabilidade se aquele extravio obstruir a Justiça, ou tudo poderá sempre continuar como até aqui. E também recordo uma conversa com políticos suíços, em Bona, destes tendo escutado o modo como se resolveu a grande criminalidade que existiu na Suíça em certa fase: penas pesadas para crimes suaves. Precisamente o que veio a fazer, mais tarde, certo mayor de Nova Iorque e com bons resultados.

Ao mesmo tempo, aguarda-se agora o resultado final do Caso das Cinquenta (armas desaparecidas do armeiro da PSP).

Em todos estes casos, se tudo voltar a ser nada, bom, continuará a crescer a péssima impressão que os portugueses, plenos de razão, têm da generalidade das instituições. Porque não pode deixar de causar um terrível espanto, junto dos portugueses, que o exame feito na véspera da tragédia, tal como o que a nossa concidadã Cláudia Costa fez pelo meio de fevereiro, quatro minutos após ter dado entrada na urgência pediátrica da unidade de saúde, possam ter-se extraviado. Até porque o segundo é um documento considerado fundamental pelos investigadores judiciários, na medida em que permite saber se o feto estava ou não vivo quando a mãe foi observada.

Vamos lá ver, pois, o saldo final de todos estes casos, porque do mesmo surgirão conclusões indicativas de uma real mudança na eficácia da Justiça Portuguesa. Ou não. Vamos esperar, porque a coisa, como se vê, prossegue.

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