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| Ricardo Caldeira |
Foi um trabalho interessante, mas fez-me perceber que não estava ali o meu futuro: ficou-me na memória uma acesa discussão (leia-se, autêntica “peixeirada” nos vazios corredores da Faculdade) entre dois professores, sobre uma candidatura a fundos de investigação. As frases “(...) mas tu tinhas prometido que não te candidatavas a esta bolsa! Esse dinheiro era para o meu grupo!!” marcaram-me, e foi este o inicio da germinação da ideia que não queria continuar em Portugal, num emprego precário de investigação e dependente de bolsas... por muito interessante que fosse.
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Passados uns meses o dono dessa pequena empresa, que era também professor universitário, ofereceu-me um lugar de doutoramento com o objectivo de desenvolver o nosso produto para aplicações farmacêuticas. Mais uma vez, o doutoramento foi custeado em parceria com o governo Escocês. Foi neste meio que dei os meus primeiros passos na industria farmacêutica. Hoje em dia sou gestor de projectos numa das maiores empresas farmacêuticas do mundo, e aquela pequena empresa que primeiro me acolheu continua a crescer e a beneficiar do trabalho que desenvolvi. Pergunto-me: Por que será que exemplos destes são tão escassos em Portugal?
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| Despesa em I&D, 2004 e 2014 (% do PIB), in Eurostat |
[post_ad] - A segunda, e talvez mais profunda e preocupante, é a mentalidade da sociedade Portuguesa em relação à importância que a educação tem para o desenvolvimento económico e à aplicação do conhecimento científico no tecido empresarial. É sobejamente conhecida a falta de investimento por parte de sucessivos governos na educação... e também não é novidade a falta de mecanismos ou programas que facilitem a valorização e monetarização da excelente ciência que se faz em Portugal.
Em jeito de conclusão, começa a notar-se uma mudança de atitude com o surgimento nos últimos anos de novos centros de investigação e de excelência. São bons e louváveis exemplos, mas pecam por serem escassos. É o meu sonho (e sei que é um sonho partilhado com muitos colegas meus) ter a oportunidade de voltar ao meu país e poder retribuir o investimento que o país fez na minha educação, e também de contribuir com o conhecimento e experiência adquiridos “lá fora”.
Ricardo Caldeira
Gestor de Projectos na indústria farmacêutica, Reino Unido
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva


