Gigalata

|Hélio Bernardo Lopes|
Foi no meio de sucessivas gargalhadas – por acaso, de espanto! – que ontem ouvi Luís Marques Mendes – voltei a ouvir e a reouvir, mal o meu neto chegou da vitória do Glorioso sobre o Spórem, como ele diz por brincadeira – falar sobre os resultados surgidos no recente Relatório PIZA, onde os estudantes portugueses de quinze anos surgiram muito bem colocados. 

Duvido que algum dos restantes comentadores que hoje enchem os nossos televisores fosse capaz de falar deste tema do modo aparentemente ingénuo como o fez o antigo líder do PSD, agora tão crítico do atual, supostamente para o ajudar... Uma autêntica gigalata.

Espanto meu, eis que Luís Marques Mendes nos surgiu com esta: veja como todos andávamos enganados, sempre a acreditar e a dizer que os nossos estudantes e o nosso Sistema Educativa eram fracos, mas agora com os excelentes resultados que se puderam conhecer!

Bom, para lá do erro da apreciação de Luís, a verdade é que mesmo antes deste relatório nós já sabíamos que o que se dizia não correspondia à realidade. Bastaria estar atento à fantástica vaga de emigrantes licenciados, mestres ou doutores que se viram forçados a deixar Portugal, na sequência da desastrosa política do anterior Governo de Passos Coelho e Portas. Esses nossos detentores de graus universitários portugueses eram acolhidos em todo o lado, mormente nos países mais desenvolvidos. E já não falo aqui de cultura geral, porque se esta variável também entrasse no estudo, bom, o nosso lugar ficaria ainda mais acima.

Quem tem filhos ou netos na escola e disponha de uma capacidade boa e independente de apreciar o saber os estudantes de hoje, facilmente percebe que tudo é atualmente muito superior ao que era ensinado no tempo da II República. Um abismo. O problema, como sempre se poderia ter percebido, era outro...

A Direita portuguesa – PSD e CDS/PP – nunca viu com bons olhos o alargamento da escolaridade obrigatória. Mas passou a usar o falso argumento da má qualidade do ensino como arma para pôr em causa os Governos liderados pelo PS. Até a paixão de António Guterres pela Educação foi usada como fator de gozação contra o próprio e o seu Governo. Ouviam-se os nossos comentadores de serviço nas televisões, e lá vinha o choradinho da má qualidade do ensino nos Governos do PS, supostamente por culpa dos políticos deste partido. Simplesmente, qualquer um que fosse independente percebia que se tratava de mentiras argumentativas. Veja-se, por exemplo, o que está já a dar-se com o Novo Acordo Ortográfico.

O que este relatório também mostrou foi o caráter provinciano dos nossos políticos, coisa tão arredia, por exemplo, em Salazar e Marcelo. Bastou que um relatório estrangeiro viesse dizer a verdade – o contrário do sempre apregoado pela Direita –, e tudo passou logo a ser diferente. Atualmente, se vem de fora, é bom.

Hoje, a um ritmo que é o determinado pelos noticiários televisivos, nós temos um autêntico isomorfismo do que se dizia da qualidade do ensino em Portugal e do saber dos nossos estudantes, e que são os choradinhos sobre a Síria, Aleppo em particular. O resto, como os genocídios praticados pela Arábia Saudita num ou dois lugares, ou os bombardeamentos em Mossul pelos Estados Unidos e seus ditos aliados, ou as mil e uma manobras batoteiras destinadas a pôr em causa a vitória de Donald Trump, nunca são referidos. E o diferendo entre Israel e a Palestina, já do início das próprias Nações Unidas, nunca é referido. Nem Guterres se lhe refere. Tudo se fica por Aleppo e por imagens com valor de verdade mais que duvidoso. Uma realidade que mostra a muito má qualidade do nosso jornalismo, incondicionalmente dependente dos interesses geostratégicos dos Estados Unidos. Verdadeira caixa de ressonância.

Mas, enfim, sempre foi um excelente momento de graça o propiciado ontem por Luís Marques Mendes: ele nuca tinha imaginado!... E como terão reagido os telespectadores portugueses: acreditaram naquilo, ou não?

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