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|Hélio Bernardo Lopes| |
De um modo que só posso tomar como artificial – e teve razão no que disse –, o antigo líder do maior partido da nossa Direita neoliberal – o PSD – veio mostrar a sua estranheza com o silêncio muito geral dos portugueses em face dos casos que envolvem portugueses do ambiente do futebol. Bom, fiquei admirado. Até esboçando um ligeiro sorriso.
A uma primeira vista, Marques Mendes deu a sensação de que se poderia – sobretudo, deveria – ter esboçado uma outra atitude social. A verdade é que, para lá de não ter razão, também lhe faltou referir outros silêncios. Até por parte da nossa grande comunicação social. Muito em especial, a televisiva.
Tendo razão em absoluto, Luís pareceu esquecer que o português, de um modo muito geral, não liga muito à corrupção, até pela omnipresença antiga da mesma em Portugal. Invariavelmente, sem consequências. E não é possível que Luís Marques Mendes não se dê conta desta realidade tão evidente: em quarenta anos do nosso dito Estado de Direito Democrático, a verdade é se conta pelos dedos de uma mão – é excessivo – o número de casos de figuras públicas ligados ao exercício da soberania a cumprir uma pena de prisão. E quem diz portugueses desse setor, diz banqueiros, sacerdotes, altos militares, magistrados, etc.. Portanto, porquê uma tal admiração? Meras palavras de aparência.
Já com Rui Rio o caso é outro e materializou-se numa objetiva falta de jeito político. Ao defender um novo imposto, mas conseguido à custa da diminuição de outros, Rui Rio até conseguiu transmitir a ideia de que um bom jurista consegue transformar algo não legal em legal. Ele mesmo o referiu explicitamente, sorrindo ao redor da assistência.
Acontece que se outros impostos diminuíssem, os cidadãos passariam a defender o Direito à Saúde, à Educação e à Segurança Social em que circunstâncias? Será que Rui Rio tomou conhecimento de certo concidadão nosso que se viu obrigado a deixar o hospital privado onde se tratava, passando para um outro, do Serviço Nacional de Saúde, por ter terminado o valor do seguro de saúde que havia realizado? É verdadeiramente espantoso que possa ter-se a coragem política de defender uma tal ideia!
O que esta ideia de Rui Rio vem mostrar é simples: o PSD – de acordo com o que vi, foi sempre assim – é um partido neoliberal, longe da posição humanista consagrada na Constituição da República e que Francisco tanto tem defendido. A posição oficial de social-democrata ficou a dever-se à necessidade de não hostilizar a Revolução de Abril e os seus vetores principais do tempo. Na prática, porém, o PSD foi o que costumo designar por partido sinusoide, dizendo-se isto ou aquilo nos termos das circunstâncias vividas no momento. Ora, Rui Rio de há muito nos expôs o seu pensamento político de fundo, mesmo de muito antes de Pedro Passos Coelho à frente do PSD: operar mudanças de fundo na Constituição da República. Mas pode, no dias de hoje, alguém do PSD propor um outro caminho? Claro que não!