As secretas servem para tudo e umas botas mais

|Hélio Bernardo Lopes|
Já todos perceberam que a generalidade da nossa grande comunicação social opera, a um ritmo diário, uma pleníssima intervenção de desinformação anti-Putin.

Tudo em Putin e na Rússia é mau, mesmo um horror, ao passo que nos Estados Ocidentais o que tem lugar é o inverso. É o que pode ver-se com adoção forçada de crianças portuguesas e polacas, retiradas à força aos seus pais legítimos, a fim de as fazerem entrar numa fantástica negociata. Ou os mil e um tiroteios diários que têm lugar nos Estados Unidos. Ou mesmo o silêncio que deverá vir a abater-se sobre os e-mails de Hillary Clinton, ou sobre a origem das doações à Fundação Clinton. De facto, algo que nos era inimaginável, embora muito mais que o cabalíssimo silêncio das autoridades portuguesas do que resta da nossa soberania – no caso das crianças portuguesas em Inglaterra –, ou da falência do Estado de Direito, à descarada, nos Estados Unidos: uns, filhos; outros, enteados.

Com graça, no noticiário de ontem da TVI, ao ser feita referência aos dignitários dos diversos Estados que iriam estar presentes nas cerimónias do funeral de Fidel Castro, a locutora que acompanhava a peça jornalística enganou-se – terá mesmo sido engano? –, referindo que Vladimir Putin, da União Soviética, não estaria presente. Devia ter dito Rússia, e não já a extinta União Soviética. Ao mesmo tempo, lá nos surgiram as imagens de Aleppo, mas nunca de Mossul. Da primeira, fogem pessoas e falta tudo, mas da segunda não se mostra quem foge (aos milhares) e nada falta. Muito menos morrem civis, apenas membros do Estado Islâmico. Tal como se dá com a Somália, ou com o Iémen, ou com a Líbia, ou com todos os lugares a que o Ocidente tem levado a guerra e a destruição.

Percebe-se já que a chegada de António Guterres ao cargo de Secretário-Geral nada mudará, até porque não se lhe ouve uma palavra sobre o caso do Estado da Palestina e sobre o imperativo de Israel retirar dos territórios ilegalmente ocupados. Tudo gira apenas ao sabor dos interesses dos Estados Unidos e do Ocidente. E quando o ouvi referir-se ao imperativo dos Direitos Humanos, bom, sorri, já de um modo aberto, porque logo me ocorreram ao pensamento os Estados da área religiosa do Islão. Ou mesmo esse caso inimaginável das crianças retiradas aos seus legítimos pais para serem adotadas, tudo inserido numa fantástica negociata. Portanto, os Direitos Humanos irão agora ser o farol da ação de António Guterres: no Ocidente tudo excelente, a Oriente um horror. E já agora: qual é, afinal, a equipa que foi escolhida por Guterres, com a sua distribuição por raças, religiões, continentes, nacionalidades, etc.?

No entretanto, a propaganda anti-Putin continua no Ocidente. Depois dos supostos hachers das eleições americanas, são agora as autoridades alemãs que se mostram preocupadas com a ação de hachers russos nas suas eleições. E, embora tudo isto não passe de uma patranha, a verdade é que, a ser levada esta historieta a sério, tal mostraria uma enorme superioridade tecnológica dos hackers russos sobre as estruturas que têm o dever de deles se defenderem no Ocidente.

Olhando uns anitos para trás, nós ficamos mesmo siderados, porque se há entidade intrusiva sobre tudo e todos, essa entidade é a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, como tão bem nos mostrou o corajoso Edward Snowden. Infelizmente, Edward ainda acreditou nos bons propósitos e na coragem de Barack Obama, mas enganou-se redondamente. Isso dos Direitos Humanos, do Estado de Direito e da lei é só para ser pronunciado contra quem não sirva os interesses dos Estados Unidos. Os exemplos são às centenas, talvez milhares.

O interessante é que tudo isto gira ao redor das secretas, área sobre que o nosso concidadão Jorge Silva Carvalho nos contou a realidade no seu recente julgamento: cerca de noventa por cento da ação correspondente será ilegal. E eu digo mais: e incontrolável. Com um pouco de sorte, o leitor poderá encontrar uma obra pequena, editada entre nós pelas Publicações Europa/América, intitulada, O BARCO ESPIÃO. É um livro de bolso, mas muito interessante e esclarecedor. Lendo-o, fica-se imensamente protegido contra o enfio de barretes. De resto, ainda no tempo da nossa RTP a preto e branco, passou um filme suportado nesta obra, em dois episódios semanais.

Creio que à quarta-feira e na RTP 2. E também o saudoso Luís Miguel Rocha, na sua obra, O ÚLTIMO PAPA, referia, a dado passo, certo diálogo, onde alguém, um pouco aflito, perguntava ao seu superior hierárquico: e agora, o que devo dizer? A resposta veio célere: diga que foram os árabes. Ou seja, sempre que oiça citar as secretas como fonte do que quer que seja, lembre-se sempre de que as secretas servem para tudo e umas botas mais.

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN