O Muro

|Hélio Bernardo Lopes|
Os ditos intelectuais dos nossos dias, hoje numa Direita aparentemente modernizada mas realmente neoliberal, não param de falar do dito muro de Donald Trump. A verdade é que o tema é já velho e está presente por lugares diversos do mundo, nomeadamente em Estados da União Europeia, ou em Israel.

Acontece, porém, que o muro, dito de Donald Trump, já existe, com uma extensão de cerca de mil quilómetros, nunca tendo sido derrubado ao longo da presidência de Barack Obama. De resto, como por igual se deu com o encerramento de Guantánamo, que continua em funcionamento. Com um ínfimo de jeito, ainda virão a ser Trump e a maioria republicana no Congresso a encerrar aquele centro de violação de Direitos Humanos, verdadeira terra sem lei.

Para se compreender a razão do surgimento do muro norte-americano é essencial olhar-se a formação dos Estados Unidos, com traços muito típicos, mas que estão presentes, nas suas grandes linhas, nos restantes Estados do mundo.

Os Estados Unidos constituem-se numa federação de Estados. Embora a sua origem étnica e cultural seja diversa, a linha dominante do Estado Norte-Americano apresenta três componentes essenciais: predominância do protestantismo, quase unicidade da língua inglesa e etnia branca dominante. Foi assim na sua origem. E assim se tem mantido até aos nossos dias, embora com os efeitos de uma sociedade que nunca foi completamente fechada.

Estas três marcas muito fortes de natureza original foram ainda acentuadas com o ingresso de escravos oriundos do continente africano, essencialmente de raça negra, e depois com a lenta entrada de outros grupos nacionais, embora de gente branca, mas linguisticamente distintos e com credo religioso diferente do protestante.

Sem ser coisa casual, a verdade é que foi por via da vitória de Barack Obama que se operou o regresso do racismo e em larga escala. Não se tratou de um fenómeno novo, porque as suas raízes nunca morreram e sempre estiveram presentes desde a independência dos Estados Unidos. Tratou-se, isso sim, de uma reação de largos setores da sociedade norte-americana à novidade, tomada por um risco, de um presidente não branco.

Também se conhece que dos quatro presidentes católicos dos Estados Unidos, três foram assassinados. Um mais que evidente efeito da atitude cultural da maioria protestante que esteve na base da formação do Estado Americano. Este facto está por igual ligado à entrada maciça de mexicanos nos Estados Unidos, uma vez que o México é um Estado com tradições católicas. A continuar um tal fluxo, não só surgiriam implicações linguísticas, como também religiosas. E tanto assim é que a estimativa dos votos eleitorais é sempre feita com base na dimensão das tais ditas minorias étnicas. Ou seja, o exercício do poder está-lhes dependente. Em princípio.

A este propósito, conto aqui uma pequena história que vivi, em certa aula de Química Geral, com um assistente muito meu amigo, apesar de ter idade para ser meu ppai e já tardio. Em face da política de Salazar, que ele tratou como de miscigenação, interrogou-se-me: tu achas que a miscigenação é possível?! Apanhado de supresa e nada tendo nunca tido de racista, também não consegui negar completamente a sua visão. Tive ali a perceção, pelo que conhecia da sociedade portuguesa, que um tal mecanismo só com muita dificuldade poderia vir a prosseguir em grandes números.

A sociedade norte-americana, portanto, tem as suas marcas essenciais próprias e é muito difícil operar-lhes mudanças profundas, dado que estas se prendem com as temáticas religiosa, étnica e racial. Se a entrada ilegal de mexicanos continuar a ter lugar, dar-se-á, necessariamente, o que agora nos veio contar uma senhora de origem árabe a viver na Alemanha e que revelou o que vem vendo e ouvindo aos refugiados que ali chegam: as crianças refugiadas recusam brincar com as cristãs e as suas mães asseguram que, por via de uma reprodução maciça, acabarão por superar o número dos alemães oroiginais e, desse modo, acabar por islamizar a Alemanha. Precisamente o que acabará por dar-se nos Estados Unidos se o controlo da imigração for deixado ao Deus dará.

Por tudo isto, e ainda pela vasta criminalidade naturalmente ligada às manchas de gente que entra nos Estados Uniddos clandestinamente, é perfeitamente natural que se utilizem os meios necessários à limitação da imigração clandestina. Um controlo que pode ser feito por meios diversos, sendo um deles o da delimitação física forte da fronteira dos Estados Unidos. E é isto que fez Israel, e que tem sido feito em Estados do Leste da União Europeia. O grande erro da política do mundo de hoje tem sido esquecer que os povos se encontram organizados por traços de nacionalidade fortes, mais ou menos antigos. Traços de muito difícil mudança, se é que a mesma é realmente possível. Por tudo isto, os gritos contra o muro dito de Donald Trump são uma marca do populismo de hoje dos ditos intelectuais bem pensantes.

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