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|Hélio Bernardo Lopes| |
Referia-se, como se sabe, a um acontecimento que teve lugar na Guerra que os Estados Unidos, sem um ínfimo de razão, moveram contra o Vietname – e contra o Laos e o Camboja –, precisamente pela iniciativa de um presidente democrata, John Kennedy.
Claro está que não se é herói apenas por se ter sido capturado. E é esse o caso de John McCain, que nada propriamente fez de heroico. O gesto que no seu comportamento tem de aplaudir-se foi o de, tendo tido a possibilidade de ser posto em liberdade – era filho de gente importante dos Estados Unidos –, ter recusado, não deixando os seus colegas de cárcere para trás. Foi, como se vê, um ato de elevado brio militar, mas não um ato heroico propriamente dito.
Infelizmente, Donald Trump não tinha a possibilidade de responder à letra ao tema que por outros foi suscitado ao redor de John McCain, porque o que outro poderia dizer é que o que se deu com o velho militar da Marinha derivou de um crime grave praticado pelos Estados Unidos, onde estes praticaram graves crimes de guerra e contra a humanidade e o ambiente.
Além do mais, os Estados Unidos viram-se forçadamente condenados a uma derrota humilhante, que os mais velhos de hoje nunca esquecerão. Muitas centenas de milhares de mortos – talvez milhões –, de estropiados de guerra – de gente de todas as idades e géneros atingida pelos ataques de John McCain e dos seus colegas – e uma desgraça deixada ambientalmente ao sabor da passagem do tempo e com consequências estratégicas.
Acontece que na Guerra das Malvinas o comandante militar argentino, major-general Mário Menendez, depois de convidado pelo seu colega britânico a tomar as refeições na messe dos oficiais britânicos, de parceria com os seus colegas oficiais, recusou o convite, determinando-se a ficar no porão, acompanhado dos seus oficiais, sargentos e soldados. Foi um ato de elevado brio militar, mas nunca um ato heroico.
Foi pena que Donald Trump não pudesse apontar aos que lhe citaram John McCain que os tais supostos atos heroicos se inscreveram numa ação longamente continuada de violações do Direito Internacional Público, incluindo crimes de guerra, crimes contra o ambiente e crimes contra a humanidade. Até sucessivas mentiras apresentadas por militares norte-americanos e agentes da CIA perante as comissões do Congresso em que foram interrogados.
Em contrapartida, John McCain já se mostra pleno de razão ao recusar as apontadas ideias de repor, na ordem jurídica dos Estados Unidos, a tortura, tal como o havia feito George W. Bush, sem que se tenha conhecimento, então, uma tão vigorosa reação do velho homem do Vietname.
Num outro registo, Barack Obama veio agora mostrar toda a sua incapacidade para digerir a vitória eleitoral de Donald Trump. Uma vitória que lhe está atravessada na garganta. Mas se vier a operar as diplomaticamente nunca usadas críticas ao futuro presidente, penso eu que deve Donald Trump ponderar levar à justiça norte-americana o caso dos e-mails de Hillary, bem como a origem do financiamento da Fundação Bill Clinton. Quem diria, afinal, que para Barack l’État c’est lui?