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|Hélio Bernardo Lopes| |
De resto, não se tratará de uma situação inédita, porque a mesma já se havia dado com a queixa de Richard Nixon contra o resultado que acabou por dar a vitória a John Kennedy, a quem sucedeu o que se conhece e nunca foi explicado. E não foi porque não podia sê-lo, embora ajude imenso a leitura do texto de Sam Giancana, sobrinho do histórico Sam Giancana. Vejamos alguns dados sobre a realidade eleitoral norte-americana.
Em primeiro lugar, este tipo de eleições tem imenso de ilógico, até de mui pouco democrático. Desde logo, e contra o que seria absolutamente natural, o voto de cada americano, de facto, não vale o mesmo, antes dependendo do Estado onde reside e da sua população residente. Um presidente assim escolhido, naturalmente, não pode voltar-se igualmente para todos os norte-americanos.
Em segundo lugar, os candidatos presidenciais têm de possuir riqueza, ou nunca poderão concorrer. É uma sociedade onde o exercício de funções políticas se encontra sempre condicionado pela riqueza possuída. E é esta a razão que sempre fez surgir presidentes sem grande preparação, porque o essencial é possuir riqueza.
Em terceiro lugar, o presidente eleito, de facto, acaba por ver-se manietado na aplicação do seu próprio projeto político, havendo uma grande indefinição constitucional sobre a separação de poderes entre o Presidente e o Congresso e sendo a composição ideológica do Supremo Tribunal Federal essencial para o prosseguir de certas políticas sufragas nas urnas.
Em quarto lugar, todo o sistema se presta à utilização de fatores que geram distorção profunda nos resultados finais das eleições. Surgem sondagens de todo o tipo e feitio, completamente incontroláveis, e que, naturalmente, não servem a não ser para criar confusão e distorcer o sentimento e a perceção dos cidadãos.
Em quinto lugar, como se pôde ver desta vez, a eleição pode até criar falsas realidades, mas que se podem posteriormente projetar no mundo. É o que se tem passado com a falsa criação de um perigo russo, agora com a colocação de mais trezentos mil soldados da OTAN nos países que fazem fronteira com a Rússia. Só faltou explicitar com clareza que Vladimir Putin é um fiel seguidor de Estaline e que Donald Trump um espião ao serviço da Rússia e do seu líder. Canalhamente, a grande maioria dos jornalistas, analistas e comentadores, foi incapaz de salientar que os velhos soviéticos sempre preferiram presidentes republicanos a democratas. E a razão foi a ontem exposta por António Vitorino: Trump é horrível, mas é autêntico. Precisamente o que eu mesmo pude já escrever por vezes diversas.
Em sexto lugar, as considerações de Pedro Pinto sobre a previsão das sondagens: poderá existir muito voto em Trump escondido, porque a pressão anti-Trump da grande comunicação social gerou algum receio em que muitos americanos expusessem o seu real sentido de voto. Precisamente o que Donald Trump foi dizendo, ao longo da campanha, sobre a distorção criada pelos jornais e pelas televisões. E não só nos Estados Unidos, antes por todo o mundo globalizado, através de uma comunicação social realmente comandada pelos grandes interesses.
Foi interessante escutar ontem Ana Lourenço, na sua pequena conversa com António Vitorino, porque o último grito do diretor do FBI – imagina-se a pressão de Obama...– mostrará que Hillary nada fez de mal, mas já as acusações a Donald Trump – também não provadas – terão de ser uma realidade!
Em sétimo lugar, a grande novidade de que não guardo memória: a utilização do Presidente e do Vice-Presidente a fazerem campanha presencial em favor de Hillary Clinton, assim mostrando que, só por si, ela talvez lá não chegasse. Além do mais, constata-se ali que os meios públicos do Estados são postos, deste modo, ao serviço de uma campanha eleitoral de um dos candidatos. Imagine-se isto em Portugal, ou mesmo num outro Estado europeu ou do mundo. Pense-se em Filipe VI, ou em Isabel II, a fazerem este tipo de aventuras com dinheiro público... Ai o que não seria!
E, em oitavo lugar, o que, lamentavelmente, iremos assistir se Hilaary Clinton vier a vencer esta eleição presidencial: a nova guerra operada pelos Estados Unidos contra a Rússia, acabando por arrastar o resto do mundo para uma catástrofe de proporções inimagináveis. A experiência com presidentes democratas nos Estados Unidos é prova experimental desta minha previsão. Até porque o próprio Barack Obama deixa ao seu sucessor um mundo num estado incomensuravelmente pior que aquele que recebeu. Lá diz o velho ditado: não há duas sem três... E já agora: será possível, de facto, analisar mais de meio milhão de e-mail em cinco ou seis dias? Claro que não! E sabe o porquê de tudo isto? Pois, porque temos a democracia, para mais a americana, que é uma autêntica maravilha. Temo-lo podido ver à saciedade...