Deve haver engano

|Hélio Bernardo Lopes|
Sem um ínfimo de espanto foi como ontem tomei nota de um conjunto razoável de novidades, em geral muito previsíveis ou naturais. Foi, neste aspeto, um dia em cheio, como usa dizer-se. De resto, o enchimento do dia havia já começado de véspera, com as notícias chegadas sobre a nossa economia e com o que depois o Conselho de Finanças Públicas acabou por dizer.

FALTA O ÓTIMO DIVINO
O dia de anteontem foi um tempo excelente, porque nos trouxe novidades plenas de sabor económico. Seria, pois, natural que as nossas (ditas) elites rejubilassem com essas notícias, mas o que se viu foi que apenas os portugueses atentos e os governantes ou os que suportam a sua ação se mostraram satisfeitos com as novidades chegadas.

Em contrapartida, o Conselho de Finanças Públicas veio de pronto salientar que falta mais ao redor de uma estratégia de médio prazo. De molde que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, com um ligeiro sorriso, lá deitou mão, até com admiração, daquela comparação com o tal copo meio cheio ou meio vazio. Em todo o caso, um copo que é aqui quase cheio.

No fundo, Teodora Cardoso, a uma primeira vista, achará que um dezassete é mau, só se contentando com vintes. Mas será que a economista alguma vez daria uma tal classificação a um Governo como este, de António Costa? Não Creio. Talvez um vinte com dez ou mais eletrões. Enfim, temos pena.

NA PEUGADA, PASSOS COELHO
Mas se Teodora Cardoso disse o que se lhe ouviu, e já mesmo anteontem, Pedro Passos Coelho repetiu o mesmo, mas ontem. Desta vez, profundamente atingido pelo tiro do porta-aviões de Bruxelas. E depois aquele raio do Moscovici, que teve agora a coragem de pôr em causa a tolerada sacrossanta opinião de Wolfgang Schauble: a situação de Portugal está agora melhor do que com o Governo anterior… No entretanto, anda por aí essa triste ideia que se ventila sobre Rui Rio, o que, objetivamente, seria ainda pior. Embora com um bom ar e a ser bem vendido, como produto político, por uma comunicação social completamente dominada pelas grandes linhas da Direita neoliberal destes dias de desnorte.

A PARTE SECRETA DO RELATÓRIO
Umas horas depois, e nova dor de estômago: tornou-se pública uma parte secreta de certo estudo de um académico da Universidade de Coimbra a propósito dos incêndios de 2013. Afinal, o Governo sempre dito transparente de Pedro Passos Coelho não deu a conhecer certa parte de um estudo encomendado à Universidade de Coimbra, e que foi conduzido pelo académico Xavier Viegas.

Com um sorriso aberto, até ecoante, foi como vi surgir no meio da notícia o histórico Jaime Marta Soares, para mais na tarde em cujo almoço escutara já Jorge Bacelar Gouveia pronunciar-se sobre o Sporting e o que Benfica e Porto terão dito de Bruno de Carvalho. E ri com gosto, porque Jaime tocou de correr para a frente, porque as famílias das oito vítimas mais uma poderiam ficar magoadas. Bom, caro leitor, com uma tal explicação, tão própria de um Estado de Direito Democrático e Social, esta explicação passará já a dispor de um lugar assaz singular na História da Democracia Portuguesa da III República.

A MENTIRA DA OMNIPRESENTE CORRUPÇÃO
Por fim, mais uma dor de cabeça para a nossa Direita, bem como para a generalidade dos nossos detentores de soberania: o mais recente relatório sobre a corrupção no mundo, mostra que, no que nos diz respeito, os poderes executivo e legislativo são os mais vistos como ligados à corrupção, sendo que os gestores e os administrados de empresas estão topo de lista vasta de apontados.

Este relatório da Transparência Internacional mostra, por igual, que a generalidade das pessoas, por toda a parte, se mostra convicta de que os materialmente poderosos condicionam a atuação da classe política. Será que o leitor não partilha deste ponto de vista?

Logo depois, não faltam profissões alvo de máxima desconfiança: autarquias, polícias, magistrados, governantes, políticos e…religiosos. Uma realidade que mais não é, no fundo, que mais uma confirmação da tal REDE que Joana Marques Vidal em tempos referiu com verdade e objetividade e que tanto mal-estar causou em mil e um e logo com ecos na nossa comunicação social.

A acabar, o relatório também mostra que, no caso de Portugal, os cidadãos estão conscientes de que o atual Governo está a trabalhar bem no combate à corrupção. Infelizmente, aquela tomada de posição política do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa sobre as contas bancárias acabou por impedir uma eficácia muito maior do que a atual. Ou seja: mais uma cachola para a rapaziada da Direita, tão ligada como está – em todo o mundo –, aos grandes interesses. Mas que cachola!

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