A entrevista de Bashar Al-Assad

Com atenção profunda foi como acompanhei a entrevista concedida pelo Presidente da Síria, Bashar Al-Assad, à RTP, na pessoa do jornalista Paulo Dentinho. E senti que não perdi o meu tempo, embora eu já conhecesse as respostas que iriam ser dadas pelo líder sírio, uma vez que teriam de corresponder à realidade que a grande estratégia dos Estados Unidos levou ao povo da Síria.

Em lugar diametralmente oposto situaram-se os três convidados da RTP 3, entrevistados por Ana Lourenço. Objetivamente perdi com o acompanhamento da a sua intervenção o meu tempo, em face da falta de objetividade, muito acima dos restantes dois, de António Costa Silva. Cheguei mesmo a dizer para a minha mulher: o que um programa de televisão permite e num país dito livre e democrático! A entrevista, de um modo muito geral, não suscitou nenhuma reação por parte dos que, com interesse sincero no que vai pelo mundo, a tenham acompanhado. Mostrou um político e estadista que vive num país sem tradições democráticas e que, com elevada probabilidade, nunca as virá a implantar.

Mas mostrou, por igual, um jornalista que deitou mão de perguntas claramente preconceituosas, como a de pedir a Assad se conseguia garantir que, sob sua direção, a Síria viria a viver numa plena democracia! Faltou aqui, a Paulo Dentinho, alguma memória sobre sucessivas explicações, dadas em entrevistas, por Adriano Moreira, que de há muito vem explicando que os valores religiosos, distintos como são de povo para povo, naturalmente determinam posicionamentos morais, políticos e legais distintos. Aliás, nem os países ocidentais são identicamente democráticos.

Depois, Paulo Dentinho abordou temáticas nunca abordadas em tantos outros casos, como, por exemplo, a dos crimes de guerra ou da violência das Forças Armadas da Síria sobre populações civis. Mas e a Guerra do Iraque? E a do Vietname? E a do Laos? E os bombardeamentos sobre o Afeganistão? E os operados com armas nucleares pelos Estados Unidos sobre o Japão? E os realizados sobre as cidades alemãs? E os restantes casos dos nossos dias, mas passados em países da OTAN, ou com outros aliados do Ocidente? E os territórios ocupados por Israel?

Depois, a questão sobre quem mandará no futuro da Síria. Mas que resposta poderia dar Bashar Al-Assad a não ser a que se lhe ouviu? E por fim – de todas, a mais fantástica pergunta –, a de saber se a Síria se defenderia da presença da Turquia, dado ser esta membro da OTAN!! Mas então, por se ser membro da OTAN pode invadir-se e roubar território a um qualquer outro Estado?!

Deixo aqui um desafio à RTP e a Paulo Dentinho: entretenham-se a tentar explicar a ação política de Barack Obama e de Hillary Clinton na Síria e ao redor das falhadas primaveras árabes, e encontrem explicações cabais para o homicídio de Muamar Kadhafi. E já agora: como vai a observância dos Direitos Humanos com os filhos do assassinado político líbio?

Enfim, foi uma muito interessante e clarificadora entrevista concedida por Bashar Al-Assad, embora os realmente atentos e desligados dos interesses estratégicos dos Estados Unidos de há muito tenham percebido o que sempre esteve aqui em jogo.

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