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|Hélio Bernardo Lopes| |
Que a globalização teria de dar um terrível resultado, parece-me evidente. E que esse resultado levaria a muita pobreza por todo o mundo – teria de nivelar por baixo, como usa dizer-se – também creio que seria sempre simples de prever. Ainda assim, houve quem dissesse acreditar no contrário, como se pôde ouvir a José Luís Saldanha Sanches em entrevista curta no JORNAL DAS NOVE, com Mário Crespo. A globalização é o que se vê, não outra coisa.
Simplesmente, a globalização, tendo que ver, muito diretamente, com o que está a passar-se no mundo, só muito limitadamente se liga com a chegada de Vladimir Putin ao poder e com o inenarrável espetáculo da campanha eleitoral norte-americana. Infelizmente, Vicente Jorge Silva não ataca as consequências de ter sido um outro o candidato republicano nesta final. E muito menos as consequências para a liberdade no mundo daí advindas.
Por outro lado, Vicente passa completamente ao lado do fracasso da presidência de Obama, onde falhou em quase tudo: lei das armas, crescimento da pobreza americana, desaparecimento do sonho americano, continuação de Guantánamo, regresso do racismo, falhanço quase total no sistema de saúde e aumento da instabilidade política mundial para níveis jamais imaginados por Vicente e por quase todos no mundo. Em todo o caso, um borracho politicamente correto, dotado de uma excelente voz para Mefistófeles. Objetivamente – recordem-se as palavras do ministro Steinmeier – estamos numa muitíssimo mais perigosa situação do que no tempo da Guerra Fria. O próprio John Kerry já tinha reconhecido o mesmo, referindo que tudo era mais previsível naquele tempo antigo.
Mas o nosso jornalista também se esqueceu de referir que os dirigentes políticos da antiga URSS sempre preferiram republicanos a democratas. E também não abordou os casos eleitorais Bush-Al Gore e Nixon-Kennedy. Ou os diversos homicídios de presidentes norte-americanos, com o de Kennedy – e do irmão – a nunca serem realmente esclarecidos. Portanto, falar de grau zero da democracia, haverá de compreender-se, é bastante forçado. Por fim, Vicente Jorge Silva também não terá tido presente que o envolvimento dos Estados Unidos em guerras de grande dimensão no mundo foi sempre conduzido por presidentes norte-americanos democratas: Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial, Guerra do Vietname e Guerra do Laos.
Se eu tivesse o privilégio de conhecer Vicente Jorge Silva, sugerir-lhe-ia a leitura de SEMENTES DE FOGO e da obra de Bob Woodward, que narra a intervenção presidencial de Jimmy Carter. Por aí poderá constatar como nada do que parece na política dos Estados Unidos realmente é. Um dado é certo: Donald Trump e Hillary Clinton, através dos métodos da democracia americana, estão aí bem à vista. E, tal como eu e o líder espiritual do Irão dissemos, venha o Diabo e escolha.
Por fim, uma pergunta: será que Vicente Jorge Silva acredita que a globalização é um processo natural, ou antes a aplicação da grande estratégia dos Estados Unidos com vista a tentar dominar o mundo? Porque o que se está hoje a passar é aqui que tem as suas mais profundas e primeiras raízes. Coisas do arco da velha!