Uma interessentíssima entrevista

|Hélio Bernardo Lopes|
Finalmente, lá nos surgiu a primeira entrevista televisiva do juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal. Uma entrevista que muito ajudou a desmistificar as mil e uma canalhices com que tantos têm tentado pôr em causa o fundamento das suas decisões e o seu comportamento à frente da estrutura a que preside.

E uma entrevista que mostrou um concidadão dotado de caraterísticas religiosas, morais e éticas mui pouco frequentes na generalidade da comunidade portuguesa. Uma singularidade que, naturalmente, nunca lhe poderia conceder um grande grau de simpatia, para mais na qualidade de juiz.

Esta entrevista só será por mim abordada com o meu neto na próxima segunda-feira, porque há nela uma parte que reputo de muito importante, e que é a que se refere ao facto de, sendo de uma família humilde, ter conseguido chegar a um lugar de prestígio, de responsabilidade e de soberania, mas, acima de tudo, aquele aspeto da exigência de uma vida disciplinada, regrada e para ser vivida com valores superiores de bem e de um modo construtivo e responsável.

Há muito expliquei ao meu neto que o ser humano só atinge a plenitude do seu desenvolvimento por volta dos vinte e três anos, sendo impossível a sua subsistência e crescimento, mesmo que meramente animalesco, sem o apoio amplo e forte de gente mais velha, a família em geral. Esta fase, que se espraia até perto dos treze anos, é essencial para o futuro de cada um, porque a mesma se vai projetar estrategicamente em todo o desenvolvimento e atitude posterior. Depois dessa idade, passa a desenvolver-se toda a influência oriunda do meio envolvente, o que, se não tiver a montante uma situação bem preparada, poderá permitir riscos perigosos.

Mas a entrevista logo me trouxe ao pensamento certo almoço com um juiz conselheiro amigo, que foi combinado por via de telefonema meu. Com pontualidade ao minuto, lá nos encontrámos no seu local de trabalho, tendo almoçado num restaurante por si proposto e que conhecia bem. Quando ali chegámos, não estava ninguém, embora eu palpitasse, com elevada probabilidade, que alguém iria surgir. E assim se deu. Com o restaurante repleto de mesas à disposição, certo indivíduo elegante e bem trajado escolheu, precisamente, a mesa ao lado da nossa... E a verdade é que a conversa, que nunca nada teria e mal, ficou logo constrangida. Portanto, nem por um segundo duvido de que Carlos Alexandre é vigiado e desde há muito. E por gente a mais diversa – sabe-se lá quem os manda...–, sendo interessante que Fernando Lima tenha estes dados em conta, agora que se prepara para lançar o seu livro. E também o tal manual, que Carlos Alexandre referiu, e cujo conteúdo se pode perceber se se ler, por exemplo, O ÚLTIMO PAPA, de Luís Miguel Rocha, infelizmente falecido ainda tão novo. Há que lê-lo...

Outro ponto com grande interesse foi aquele do saloio de Mação, com que uma qualquer estrutura o tentou minimizar. Mas também este dado não é inédito, para o que basta recordar o modo como era tratado Aníbal Cavaco Silva, logo ao início do seu tempo de governação. O que a Direita e a Esquerda dele disseram, e o que depois se passou, tudo culminando sempre num desaire nas saídas dos grandes cargos que exerceu! Nada tendo que ver, de facto, com o tal modo minimizante, teve que ver, isso sim, com caraterísticas suas e que nunca o beneficiaram muito. Muito em especial no tempo da anterior Maioria-Governo-Presidente. Até Fernando Lima reconhece – tem razão – que foi definhando a sua intervenção, saindo, realmente, muito mal.

Depois, a razão de ser da sua carreira. É claro que temos de compreendê-la, mas a verdade é que não é muito lógico que se não prossiga em frente por tal razão. Fica a sensação de que a esposa será, acima de tudo, uma dona de casa, esposa e mãe, ou tais apertos não obrigariam a um trabalho tão intenso. Mas é claro que existem muitas maneiras de ter férias, como ler, estudar, ao nível pessoal, ver cinema, futebol e outros programas, ir à terra, etc.. Nem tudo se resume a estar na praia ou em banhos. Até porque se impõe saber nadar.

Um outro aspeto interessante é o que se prende com os tais requisitos para se ascender a juiz desembargador. Mas se hoje já se aceita o acesso ao Supremo Tribunal de Justiça – também a desembargador? – a personalidades de reconhecido mérito, sem que tenham sido juízes, que razões podem levar a considerar que Carlos Alexandre não é já uma personalidade com tal reconhecido mérito? Nenhumas!

Por fim, as ameaças. É um tema em que o tempo lhe poderá facilitar a vida, o que não foi o caso na época do homicídio de Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, e em que perderam a vida vários outros concidadãos nossos. Por essa altura, as coisas estavam longe de funcionar capazmente, havendo ainda grandes influências das condições iniciais do decurso social, que se tinham definido com a Revolução de 25 de Abril. Hoje, as coisas são diferentes. E por muitas razões, todas bem à vista de todos.

Mas não há bela sem mácula. E nesta entrevista o juiz Carlos Alexandre poderia ter evitado, ao menos por duas vezes, a referência à ausência de amigos seus que pudessem obviar-lhe nas obrigações materiais a que se encontra livremente obrigado. Terá sempre de ser tomado como uma piada, embora também ninguém possa fazer uma demonstração de que assim foi. E afinal, Fernando Pinto Monteiro sempre tinha razão naquela sua referência a ser escutado... Portanto, espero que Fernando Lima olhe para tudo isto, já tão amplamente espraiado. Enfim, uma entrevista interessantíssima, que escutei em completo silêncio. Se prosseguir por este caminho, a SIC só terá a ganhar.

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