Má visão ao perto

|Hélio Bernardo Lopes|
Volto hoje ao diálogo entre João Soares e o embaixador itinerante de Angola, que teve lugar na RTP 3 e moderação de Ana Lourenço. De resto, abordei o tema no meu texto anterior, BANHADA, mas entendo dever voltar hoje a fazê-lo.

Creio que logo no dia seguinte, a TVI, no seu noticiário da hora do jantar, ofereceu aos portugueses um documentário sobre as condições que vigoram em certo campo de acolhimento de refugiados na Grécia – INDESEJADOS –, e onde a violação de Direitos Humanos é coisa corrente. Um verdadeiro campo de concentração, onde nem a comunicação social pode entrar.

Algumas filmagens, feitas às escondidas, mostram a violência ali presente, incluindo a da própria polícia, e tudo sem que os refugiados tenham acesso à justiça. Não é em Angola, é no seio da famigerada União Europeia. E tudo sem que ninguém diga nada sobre o tema. Mormente os detentores de soberania dos Estados daquela fatídica instituição.

Seria deveras interessante voltar a convidar João Soares e colocar-lhe a questão de se manter o silêncio das diversas autoridades europeias, incluindo as nossas, e de como se podem, deste modo, violar, de modo sistemático e diário, os Direitos Humanos de concidadãos do nosso mundo que fogem da guerra e da miséria, operada, acima de tudo o resto, pelo Ocidente que colonizou os seus territórios de origem.

Depois da colonização do Ocidente nortenho sobre os povos do Sul, e das mil e uma diatribes que os primeiros operaram sobre povos e riquezas dos segundos, o Ocidente simplesmente os abandonou à sua sorte, corrompendo os sucessivos líderes políticos que foram surgindo, lançando aqueles povos por caminhos políticos que sempre teriam de conduzir ao desastre que pode hoje ver-se. Corromperam os líderes, dominaram o sistema educativo, promoveram a guerra, operaram contratos ruinosos, sempre voltados para a satisfação dos seus interesses, e sempre com os Direitos Humanos na boca.

Por fim e sem espanto, as nossas televisões badalam sem cessar Luaty Beirão e os seus colegas de tentativa de derrube da ordem constitucional angolana, mas tocam apenas por leve neste caso vergonhoso da violação de normas elementares e principais do Direito Internacional Público. Haverá de compreender-se que os políticos europeus, certamente por um interesse cínico, fingem não ligar ao caso dos refugiados, preferindo pagar a ditadores para que morram lá longe. É uma objetiva má visão ao perto, para lá de se continuar a política de exploração de sempre dos povos do Sul. Uma vergonha difícil de qualificar.

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