Ainda a entrevista

|Hélio Bernardo Lopes|

No último parágrafo do meu texto de há dias, intitulado UMA INTERESSANTÍSSIMA ENTREVISTA, tive a oportunidade de salientar que as considerações do juiz Carlos Alexandre, ao redor da sua ausência de contas de amigos pródigos, haviam sido pouco felizes, embora nada adiantem ou atrasem a quanto realmente está em jogo no caso Marquês. E logo referi que as mesmas seriam sempre interpretadas como uma piada.

Ora, neste sábado que acabou de passar soube-se por José Sócrates que este iria apresentar aos órgãos que controlam o funcionamento da Magistratura Judicial uma queixa sobre o que foi proferido por Carlos Alexandre naquela sua entrevista. Veremos, pois, o que virá a ser decidido, embora tenha para mim que aquela frase, que sempre iria ser tomada como uma piada, em nada afeta o desenrolar do que está em causa no caso Marquês.

Admita agora o leitor que o Conselho Superior da Magistratura se determinava a retirar o juiz Carlos Alexandre do processo em causa. E suponha que do mesmo, no que respeita a José Sócrates, nada se viesse a dar por provado, acabando sem condenação. Já imaginou o leitor ao que todo este mecanismo se iria prestar? Percebe que de pronto iriam os portugueses concluir que se havia deitado mão deste incidente para mudar de juiz, e por aí, se operar uma nova e livre apreciação de quanto se pudesse conter no processo ao tempo da mudança de magistrado? Não iriam faltar modelos explicativos, e nada suscetíveis de serem postos em causa, dado que na vida, o que parece é...

Faltou neste caso a Carlos Alexandre a cautela essencial para evitar os mil e um que o desejam ver do Tribunal Central de Instrução Criminal para bem longe. E, como muito bem se sabe, não faltam concidadãos nossos que nele veem pior ainda que Mefistófeles.

Admitindo como verdadeira a notícia cujo título se continha na edição de ontem do i, é um facto, e de todos conhecido, que aos magistrados se impõe uma cautela e uma ausência da ribalta comunicacional televisiva. Até a um qualquer Presidente da República!

Enfim, foi um deslize do juiz Carlos Alexandre, mas que nada implica, em termos de impacto, com o desenrolar do caso Marquês. Mas veremos aonde tudo isto irá conduzir...