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|Hélio Bernardo Lopes| |
A verdade é que os ecos desta decisão se estão a estender por quase toda a Europa, desde a parte institucional à meramente informativa. Talvez o maior escândalo ético-político europeu desde há uma boa imensidão de anos. Um outro máximo lusitano, depois das agradáveis vitórias de muitos desportistas portugueses a nível internacional.
Em todo o caso, não deixou de se constituir numa marca do modo português de estar na vida, e na política, o quase silêncio português ao redor deste escândalo. Um silêncio com as notáveis exceções do Bloco de Esquerda, do PCP e d’Os Verdes. Um silêncio por igual mantido ao nível da generalidade dos jornalistas, analistas e comentadores, sempre sem uma réstia de ética ou de lógica, refugiando-se numa legislação claramente posta em vigor pelos que agora andam nas bocas do mundo.
Como muitíssimo bem escreveu ontem Santana Castilho, num seu artigo no PÚBLICO, sendo teoricamente livres, usamos a nossa liberdade para permitirmos que nos condicionem, com tudo a ser mercadoria, educação inclusa, e preferindo estar sujeitos a mecanismos de controlo social a criar mecanismos de oposição ao sistema e de desenvolvimento de outro tipo de desejos, como o de visitar a vida, de cooperar com os outros. É a dolorosa realidade do tempo atual.
Mas também o Secretário de Estado dos Assuntos Europeus francês expôs na sua Assembleia Nacional que o senhor Barroso fez a cama dos antieuropeus, pelo que apelo, pois, solenemente, a que abandone esse cargo, porque esta contratação é particularmente escandalosa tendo em conta o papel desempenhado pelo banco durante a crise financeira de 2008, mas também o papel na camuflagem das contas públicas da Grécia.
Em menos de um dia, seguiu-se o Presidente François Hollande, numa entrevista concedida a um canal televisivo: é uma questão moral e ética, ligada a uma pessoa, dado que a Goldman Sachs esteve no centro da crise dos subprimes e ajudou o Governo grego a maquilhar as contas da Grécia, pelo que moralmente é inaceitável ir para esse banco.
Voltando ao artigo de Santana Castilho no PÚBLICO, aí cita o académico o norte-americano Carl Levin Milton, advogado e ex-senador pelo Michigan, sobre o Goldman Sachs, quando o identificou como um ninho financeiro de cobras, repleto de ganância, conflitos de interesses e delitos.
Valendo a pena tentar ler este texto do académico Santana Castilho, o que hoje pode já perceber-se é que a escola, aqui no seu sentido mais amplo, está cada vez mais longe de ajudar a formar gente com verdadeira alma e dotada do essencial conhecimento dos Direitos Humanos, naturalmente suportados numa ética que deriva, inquestionavelmente, dos valores que ajudaram a formar a Europa que sempre desejámos: valores da cultura celta, da cultura judaico-cristã e da cultura greco-latina.
Infelizmente, nós dispomos já hoje de excelentes e dolorosas estimativas dos resultados do caminho que os políticos como Durão Barroso ajudaram a criar. Basta que olhemos o clima que varre atualmente a sociedade norte-americana, a francesa, bem como as guerras que, direta ou indiretamente, têm vindo a ser fomentadas pelos grandes interesses ocidentais, um pouco por toda a parte do mundo.
Por fim, ainda Durão Barroso. Ninguém com bom senso pode questionar que Durão dispõe de qualidades. Simplesmente, nem por aí, nem mesmo por via de qualidades que fossem imensamente melhores, se poderia operar a carreira que se conhece em Durão Barroso. Terá de existir algo mais a montante. Vejamos alguns dados.
Em primeiro lugar, Durão Barroso é oriundo de uma família transmontana, pelo que é elevada a probabilidade de ter recebido educação católica.
Em segundo lugar, Durão Barroso calhou ser um daqueles muitos portugueses que Álvaro Cunhal, pleno de razão, qualificou como a pequena burguesia de fachada socialista. Não faltam casos deste tipo.
Em terceiro lugar, a saída de Durão Barroso do Governo de Portugal para a liderança da União Europeia nunca poderá ter sido determinada por qualidades demonstradas até aí. Não faltava gente imensamente mais apetrechada.
Em quarto lugar, António Vitorino nunca até hoje se determinou a expor-nos o que disse vir a fazer mais tarde.
Em quinto lugar, Durão viu-se logo envolvido, ao tempo em que estava a constituir a sua equipa de comissários, num caso que acabou por impedir a entrada de um italiano que era membro da Opus Dei.
Em sexto lugar, Durão foi professor visitante da mais antiga universidade católica dos Estados Unidos, a de Georgetown, mas também da Universidade Católica Portuguesa. E, ao que creio, também na católica de Moçambique.
Em sétimo lugar, Durão acabou por se ver ligado, como membro, ao Clube de Bilderberg, instituição sobre que, com aspeto cândido, referiu ser apenas um grupo de reflexão!!
E, em oitavo lugar é hoje também membro de uma família com grandes tradições católicas, para o que basta dispor de um computador e possuir acesso à INTERNET. E foi até num ápice que um seu filho acedeu rapidamente, também no meio de grande alarido, ao Banco de Portugal.
Por fim, um significativo erro: apadrinhado pelo católico transmontano Adriano Moreira, Durão Barroso, sem real justificação, viu-se agraciado com o título de doutor honoris causa pelo ISCSP. Portanto, caro leitor, pode já perceber por aqui que é muita prebenda para tão escassa qualidade e útil produção. Mas basta pensar um pouco, porque a explicação de tudo é já hoje muito fácil.
Espero agora que alguém com poder leve este caso ao Tribunal Europeu de Justiça e que aas autoridades europeias se determinem a pôr um fim nesta possibilidade legal. Quem quiser ser líder desta moribunda União Europeia, ou seu comissário, terá de continuar a viver apenas com o valor da sua mui excecional reforma, tal como um juiz. Deste modo, já fica a receber o que só estará ao alcance de uma décima de milésima da população mundial. Ou menos.
Mas será que os políticos europeus vão proceder por este caminho? Claro que não! Se assim fosse, já o teriam, feito...