O fim da Democracia

|Hélio Bernardo Lopes|
Quando comparamos as palavras de ontem de Theresa May com as mais recentes decisões do ECOFIN, percebe-se que a democracia está ainda presente no Reino Unido, mas já completamente longe da estrutura que realmente comanda a dita União Europeia. 

Infelizmente, Portugal foi para aqui atirado por políticos razoavelmente habituados a seguir dos designados ventos da História, apesar de Espanha continuar com as suas possessões no Norte de África, com o Reino Unido em Gibraltar e nas Malvinas e com a França com quase uma centenas de possessões em todo o mundo. Pagámos, com esta maneira de ser imitadora, um preço incalculável. Nós e tantos dos povos do mundo que sempre confiaram em nós e nos continuam, tão profundamente ligados, como agora se viu com a vitória no Euro 2016.

Foi muito elucidativa a entrevista de Jerónimo de Sousa no noticiário da TVI da hora do jantar. Com lógica, José Alberto Carvalho colocou a questão de saber o que poderá fazer Portugal no caso – é a verdade – ali apontado pelo líder do PCP, e que é o facto de existir hoje imposto na tal dita União Europeia um pensamento único, com a sistemática criação de dificuldades de todo o tipo aos povos que não aceitem seguir a cartilha empobrecedora do neoliberalismo. Faltou ao líder comunista responder com o título do meu texto de há dias: COMER E CALAR, OU SAIR.

Um pouco mais tarde, foi possível acompanhar um debate entre Ricardo Paes Mamede e Helena Garrido, moderados por Ana Lourenço. Aliás, aparentemente moderados, porque Ana Lourenço, claramente impreparada em face de um académico sabedor e exigente, também acabou por tomar parte, assim como se fosse um apoio da convidada na discussão dos pontos de vista. Uma realidade que logo me trouxe ao pensamento duas outras, já históricas. Por um lado, a infeliz intervenção de José Rodrigues dos Santos, quando entrevistava José Sócrates. Por outro, o histórico programa, OS COMPANHEIROS DA ALEGRIA, ainda ao tempo da II República, onde Igrejas Caeiro fez o que, mesmo hoje, nunca os Estados Unidos aceitariam de alguém com projeção pública, se estivessem a combater um inimigo. E já nem falo desse tempo norte-americano, ainda com John Edgar Hoover e macertismo bem vivos.

Portugal e os portugueses têm hoje no ambiente noticioso televisivo, de um modo muito geral, um dos principais adversários dos seus interesses, estando como sempre estão do lado dos que nos atacam, já sem nada ligarem, mesmo que minimamente, ao direito de viver em democracia, com todas as suas consequências.

Quem tiver acompanhado os comentários televisivos ao redor da seleção de Portugal neste recente Euro 2016, facilmente terá podido ver o modo catavento que marcou as intervenções dos nossos comentadores de futebol. Embora o panorama tenha sido extremamente uniforme, destaco os dois casos mais extremos, mas opostos. Por um lado, o de João Alves, claramente compreendendo, desde o início, as decisões de Fernando Santos. Por outro, José Manuel Freitas, que pedia o regresso imediato da seleção se não se derrotasse a Hungria. Pois, não derrotou, esteve sempre a perder, mas logo tudo continuou como se nada tivesse sido dito. Mais uns dias, e o que era típico de bestas passou a bestial.

E esta é a superficialidade com que a nossa grande comunicação social trata a generalidade das questões que nos atingem. Precisamente o que ontem se pôde ver com Ana Lourenço, incapaz de compreender que há um abismo de saber e de exigência técnica entre si e Helena Garrido, por um lado, e Ricardo Paes Mamede, por outro. Indubitavelmente, a generalidade do nosso jornalismo televisivo está hoje constituído num dos principais inimigos de Portugal e dos portugueses. Infelizmente, os tais da investigação jornalística continuam sem nos dizer quem eram os seus colegas que surgiam nos Papéis da Mossack Fonseca e as razões de tal ser assim. Simplesmente, esta é uma equação de muito fácil resolução por parte do leitor...

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN