Mas que cabeça!

|Hélio Bernardo Lopes|
Lá terminou o trabalho da comissão de inquérito parlamentar ao caso BANIF, apenas com os votos contra do PSD. Tinha de ser. O próprio CDS/PP esteve muito acima desta tomada de posição do PSD por mera jogatina político-partidária, abstendo-se e tendo mesmo dado contribuições para o resultado final do referido trabalho, coisa que o PSD, como seria já de esperar, não fez. Nunca o faria.

Infelizmente, esta atitude de mera chicana política do PSD surgiu depois da recente decisão da Comissão Europeia, no sentido de não aplicar sanções a Portugal e Espanha. É caso para que se possa dizer: mas que cabeça, a da nossa Direita, que sonhou forte e desabridamente com tais sanções! Que cabeça!!

Sabe-se agora que o Ministro das Finanças da Alemanha tratou, logo na manhã da decisão final, de pedir – ordenar, claro – aos seus amigos comissários de Estados com Governos de Direita que não aplicassem sanções a Espanha, porque esta poderia, naturalmente, ver dificultada a formação do novo Governo de Direita. Portugal, como sempre se soube, foi à boleia deste caso espanhol.

Por tudo isto, achei estranhas as palavras do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa ao redor dos vencedores com esta decisão. Ganhou a União Europeia? Mas como se esta está hoje pelas horas da amargura ao nível da generalidade dos povos europeus?! Ganhou a nossa atual oposição? Mas como se esta jogou sempre o jogo do pau de dois bicos, colocando-se incondicionalmente do lado da autoridades europeias?!

De facto, foi uma grande vitória do Governo de António Costa, embora não apenas por lhe assistir razão, também porque a mesma derivou dos interesses alemães em não criar complicações na possível feitura do novo Governo de Espanha. Simplesmente, o Governo de António Costa ainda terá que levar de vencida a nossa oposição, a nossa grande comunicação social e os grandes interesses europeus, desde há muito capitaneados pela Alemanha. Até o FMI nos veio agora dizer que a Troika, afinal, atuou mal. Uma gentalha que brinca assim com a vida e a felicidade dos povos.

Foi por infelizes brincadeiras deste tipo, até mesmo muitíssimo piores, que se chegou às ações terroristas que vêm tendo lugar por todo o mundo. E como há dias expliquei, aí estão já os nossos concidadãos católicos a tentarem aproveitar o comboio, como sempre em nome da falta de fé e de valores. Como se no tempo da fé e dos valores – os agora brandidos – Lisboa não tivesse sido sacudida por ataques terroristas diversos! E quem diz Lisboa, diz Espanha, Itália, Alemanha, Reino Unido, etc.. O que há agora de novo é o surgimento de guerras onde existia paz. Guerras criadas pelo Ocidente, como as que tiveram lugar no Norte de África e na Síria. E tudo, sempre, por motivos geopolíticos, onde o religioso sempre está presente como um instrumento de guerra.

Pois, se fossem a falta de fé e de valores, os criminosos não teriam atacado uma igreja, assassinando o pároco e ferindo uma freira. Estavam ali a fé e os valores, mas não evitaram o atentado. E a razão é tão simples como a que explica os atentados dos anos sessenta, tempo em que existiam Deus, Pátria e Família. Um vergonhoso oportunismo de raiz religiosa.

A falta de valores dos nossos dias tem uma causa, que foi a ontem referida por Henrique Pinto: o triunfo do neoliberalismo. A verdade, porém, é que os representantes da nossa Direita nunca referem esta evidentíssima realidade. Esses nossos concidadãos nunca salientam as verdadeiras causas das guerras que vêm decorrendo nos países de religião islâmica. Nunca referem que tem sido através da Turquia que o petróleo que mantém o poder militar do Estado Islâmico foi sendo vendido para todo o mundo, incluindo o Ocidente. O primeiro que tal referiu, e para mais de sessenta países, foi Vladimir Putin. Conclusão: passaram a chamar-lhe malandrão, surgiu o doping dos atletas russos, o caso da FIFA, etc.. E do que está a passar-se na Turquia, bom, nem palavra ocidental ou papal.

Chega-se ao cúmulo de apontar a retoma da pena de morte como um limite final das negociações para a entrada na famigerada União Europeia, quando esse anúncio da pena de morte não passa de mero bluff de Erdogan, sabedor da falta de qualidade e de tato político da generalidade dos políticos ocidentais, incluindo Obama, que quase nada realizou do que prometera. Até Luís Costa Ribas ontem reconheceu que o sonho americano terminou, porque quem nasce rico nos Estados Unidos morre rico e quem nasce pobre morre pobre. Ou na prisão ou no cemitério, se for preto. E já agora, convém não esquecer o regresso do racismo com a presidência de Barack Obama, e logo ao nível da polícia, um verdadeiro Estado dentro do Estado plutocrático que são os Estados Unidos.

Por fim, uma ideia de Eduardo Marçal Grilo, na RTP 3 ontem: os jornalistas devem autorregular-se melhor, que é, no fundo, uma outra maneira de trazer a censura, mas pela mão dos próprios jornalistas. Sem espanto, eis que Ana Lourenço, já mesmo no final, nos expôs que existia um filme do crime da paróquia, mas que os jornalistas se haviam comprometido a não divulgar. Uma história que logo me trouxe ao pensamento a célebre historieta da bandeira pisada por Mário Sares em Londres. Quando perguntei a certo tenente-coronel se tinha visto essa fotografia, respondeu-me que não, porque o Soares tinha mandado destruir todas!! Desatando a rir, lá lhe expliquei que tal deitava por terra tudo que se conhece da ciência, sendo, objetivamente, um acontecimento impossível. E assim se dá com o tal filme da igreja, porque, a existir, sempre teria de surgir em algum lado. Ou não é verdade? Claro que é!

Enfim, está-se a caminho de uma nova ditadura, suportada no domínio confessional, para tal usando o perigo da falta de fé e de valores. Mas sempre com a dita democracia... E há sempre quem vá nesta historieta.

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