Comer e calar, ou sair

|Hélio Bernardo Lopes|
Já sem um ínfimo de espanto, aí está a prossecução do desnorte da famigerada União Europeia, claramente também apostada, fruto das suas divisões ditadas por razões ideológicas, em colocar Portugal de pés e mãos atados, incapaz de poder ver aplicado o Programa de Governo aprovado na Assembleia da República e que trouxe aos portugueses um assomo de esperança, completamente arredio nos tempos da condução política da anterior Maioria-Governo-Presidente.

Depois das mil e uma inúteis limitações colocadas à formação do atual Governo pelo anterior Presidente da República, os portugueses perceberam agora, creio que definitivamente, que ou se continua nesta desgraçada União Europeia – Porfírio Silva, com acerto, comparou-a à União Soviética mas sem KGB –, ou dela se sai. Em qualquer caso, com um preço enorme a pagar, por muitos anos, pela grande maioria dos portugueses.

Este preço é o que deriva da ousadia de se terem os políticos portugueses deitado a enfileirar numa estrutura onde, manifestamente, os parceiros nada tinham de similar e que facilmente se poderia perceber ser algo de antinatural. De há muito se percebeu que a Alemanha passou a comandar a estrutura desta União Europeia, onde o que existe não conta, a não ser se for aplicado a Estados pequenos. E nós percebemos hoje que é já vasta a legião de povos que não deseja continuar numa tal realidade que lhe é culturalmente alheia. Tudo está em ter-se a coragem de os auscultar...

Mesmo concidadãos nossos de real gabarito em temas ligados ao nosso continente, até a outros domínios, não conseguem dar-se conta de que muitas das adesões desses Estados pequenos foi fruto da moda do tempo e da ideia facilitista e sonhadora de que tudo iria ser muito melhor e duradouro para os seus povos. Ainda assim, de um modo muito geral e crescente no tempo, poucos tiveram a coragem de suscitar o apoio popular direto dos seus concidadãos. Objetivamente, esta União Europeia tem-se vindo a tornar numa estrutura claramente pouco democrática, onde só certos resultados preconcebidos são aceitáveis para a Alemanha e para os órgãos institucionais realmente por si tutelados.

Terrível sinal dos tempos, rareiam na nossa grande comunicação social os que mostrem a coragem ontem mesmo revelada por Márcio Cardoso, no PRÓS E CONTRAS que antecedeu as férias do programa. Finalmente, alguém veio expor esta realidade, tão conhecida quanto escondida: a unidade da Europa, defendida por Churchill e Schuman, destinava-se a impedir o retorno de um novo movimento pangermanista. Houve, até, quem defendesse que a Alemanha não voltasse a ser um Estado, ou que, a sê-lo, se ficasse como um Estado simplesmente agrícola.

A grande e indiscutível verdade é que o pangermanismo acabou por reencontrar o seu lugar e já comanda hoje os destinos desta famigerada União Europeia. Nem sequer hesitam em defender a saída dos atuais dirigentes da União Europeia, ou o avanço rápido, com quem quiser segui-los, para uma nova realidade, onde possam ser os timoneiros a que sempre aspiraram, já desde os três grandes conflitos europeus que criaram.

À beira dos quarenta e dois anos da Revolução de 25 de Abril, Portugal encontra-se sob este dilema de verdadeiro terror: continuar nesta União Europeia, comendo e calando, ou dela sair. No primeiro caso, já não seremos verdadeiramente independentes – convém aqui recordar as palavras de Marcelo Caetano na tal CONVERSA EM FAMÍLIA que tenho referido –; no segundo teremos de pagar um preço incalculável. Como eram reais as palavras de Caetano: sem o Ultramar Português, ficaríamos reduzidos a uma província da Europa...

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