As autárquicas

|Hélio Bernardo Lopes|
Vêm aí as eleições autárquicas do próximo ano. O resultado destas eleições, mormente ao nível do PS, irão determinar o futuro da liderança do partido, mas também a continuação, a nível adequado, da atual estrutura da governação e do seu suporte. Uma realidade com causas internas e externas. Tentemos, pois, escalpelizar o que está em jogo com estas eleições autárquicas.

Ninguém hoje duvida já de que existe no seio do PS uma fação objetivamente ligada ao tipo de ação política da anterior Maioria-Governo-Presidente. Foi por ser esta a realidade que Aníbal Cavaco Silva chegou a acreditar que a reprovação do anterior Governo na Assembleia da República pudesse não vir a dar-se.

Essa fação voltou a surgir ao redor da campanha presidencial de Maria de Belém, mostrando as urnas que a derrota de António Sampaio da Nóvoa se ficou a dever àquela candidatura. E depois o resultado, aliás, mais que expectável: uma derrota estrondosa. Derrota estrondosa que também já havia atingido a linha de António José Seguro nas eleições que propôs quando foi desafiado por António Costa. E a verdade é que a tal fação de direita nunca conseguiu digerir os magros resultados que atingiu.

À medida que o tempo foi passando, foi-se juntando a diária derrota de nada do previsto ter tido lugar. Apenas António Galamba continuou a escrever o que só raros deverão ler. E o País prosseguiu o seu rumo, já agora com um toque da esperança que havia desaparecido. O próprio Presidente Marcelo Rebelo de Sousa não se tem cansado, logo desde o discurso da sua tomada de posse, de salientar que a esperança havia regressado.

Mais recentemente, lá surgiu de novo Francisco Assis, sempre colocado ao lado das políticas do PSD e do CDS/PP, também criticando a atual liderança do PS e de novo renovando a sua posição contrária à atual forma de Governo, mas a que também só raros ligarão. Em contrapartida, perante a possibilidade de poder Portugal vir a ser sancionado, bom, dessa fação nem uma palavra, muito menos um protesto. Nem mesmo as recentes palavras do líder da Comissão Europeia, sobre que a França é a França, não sendo a lei igual para todos, os leva a uma tomada de posição pública ao lado dos interesses de Portugal e dos portugueses.

Significa isto, pois, que a liderança do PS tem de ter cuidado face às eleições autárquicas que se aproximam, não voltando a repetir os erros tremendos da anterior eleição presidencial. Nenhum partido digno dessa qualidade política pode concorrer a eleições no meio da balbúrdia ou do divisionismo declarado, para mais acabando por funcionar ao serviço dos partidos ideologicamente adversários. Isto, pois, no plano interno do PS.

Acontece que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa já apontou essas eleições autárquicas como uma baliza, um antes e outro depois. Um outro que poderá até ser o mesmo que o anterior, mas desde que sejam assumidos cuidados. De resto, nenhum observador deixou de atribuir às palavras do Presidente da República um valor de autenticidade, mesmo depois da explicação retificativa que nos trouxe. Com palavras distintas, foi o que antes havia referido.

Significa isto, em minha opinião, que talvez exista vantagem em PS, Bloco de Esquerda, PCP e Verdes se unirem nas grandes cidades do País, criando uma dinâmica que, também nas restantes, mostre claramente que PSD e CDS/PP são os principais adversários dos interesses essenciais dos portugueses, que o atual Governo tem perseverado em repor. As palavras do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa sobre o significado do resultado das autárquicas não foram uma gaffe...

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