Pifou

|Hélio Bernardo Lopes|
Estou firmemente convencido de que a grande maioria dos portugueses, gente que procura trabalhar, sobreviver e multiplicar-se, terá já percebido o estado de desnorte e de loucura que vem atingindo o mundo. E também que o que se diz num dia, logo no imediato se pode vir a desdizer. Tornou-se uma regra de periodicidade diária.

Sendo isto uma realidade que se nos impõe, naturalmente que os portugueses terão já percebido que o caso dos Papeis da Mossack Fonseca simplesmente pifou. Tudo não passou de uma montanha que pariu um rato. Não por não ser tudo aquilo uma realidade posta em prática pelos poderes do mundo, mas porque os povos, como se vê, não têm o poder de delegar em alguém o encargo de levar a cáfila de criminosos em jogo à barra do tribunal.

Este caso dos Papeis da Mossack Fonseca teve o mérito de mostrar que a democracia não passa de mera forma sem conteúdo. E também o de pôr a nu a cabalíssima fraqueza das máquinas da Justiça. Por fim, a clarificação de que tudo isto sempre se passou por via do apoio dado pelo poder político, esteja ele onde estiver.

Infelizmente, a grande comunicação social sai desta brincadeira dos Papeis da Mossack Fonseca pela porta baixa, porque se mostrou completamente incapaz de realizar o que, às parangonas, por aí andou a alardear. Ora, tal como muito bem referiu Paulo Morais, a maioria dos envolvidos nos Panama Papers são políticos, pelo que, apesar de estarem identificadas, neste escândalo, 246 entidades com ligações ao nosso país, não foram ainda revelados os nomes dos políticos portugueses envolvidos. Bom, é a evidentíssima realidade.

Por fim, é essencial recordar que também foi anunciada a existência de jornalistas, até pagos por gente que por estas bandas teve muita riqueza e poder. E então? Ah, nada! Até porque, no ir da volta, ainda se correria o risco de vir a estabelecer algum pagamento por gente das secretas, portuguesas ou outras, a jornalistas e políticos da nossa praça.

Um dado é certo: o caso dos Papeis da Mossack Fonseca simplesmente pifou, pelo que deve agora o leitor procurar perceber o que, com elevada probabilidade, terá estado a montante deste fracasso cabal. De resto, nada disto teve um ínfimo de importância, porque de há muito se sabia ter de ser esta a realidade. Pois não estávamos nós a viver acima das nossas possibilidades?

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