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|Hélio Bernardo Lopes| |
Para lá de quase ninguém saber que esse era o Dia da Europa, raros terão dispensado um qualquer conjunto de considerações sobre o mesmo. Objetivamente, nos dias de hoje, a União Europeia já não dispõe de uma ínfima projeção no imaginário coletivo dos portugueses, nem da quase totalidade dos povos europeus.
Os portugueses foram colocados à força na estrutura da Europa, sem nunca terem sido consultados, tal como agora irão ser atirados para a fogueira do novo TTIP, que virá pôr um fim no mínimo de esperança dos portugueses num futuro melhor, com mais segurança e maiores expectativas para os vindouros. Duas autênticas desgraças.
O mais interessante é constatar o modo deformante como o tema da União Europeia continua a ser tratado, mesmo por aqueles que discordam completamente daquilo em que se transformou a União Europeia e do horror para que os povos europeus estão a ser atirados, até num clima de cabal segredo, para as gravíssimas consequências do TTIP.
Uma das deformações muito apontadas pelos inacreditáveis defensores da União Europeia é o facto de, supostamente, com ela se ter conseguido pôr uma paragem nas constantes guerras que vinham tendo lugar no espaço europeu. Nada é mais errado. O que levou a essa paragem foi o surgimento da OTAN, sempre superiormente liderada, ao nível militar, por um oficial-general de quatro estrelas dos Estados Unidos. Um país que continua a mandar, ao nível militar, no espaço europeu e em quase todos os países.
Lamentavelmente, a União Europeia, como alguém escreveu cheio de oportunidade, é hoje uma nova União Soviética, mas sem KGB. Graças à União Europeia, a democracia quase desapareceu dos Estados mais pequenos e limítrofes do seu espaço. Tudo está hoje reduzido ao direito de votar em partidos, mas que se vêem tutelados e limitados na sua ação pelo poder central da Alemanha, de comissários sem real legitimidade, ou pelo próprio BCE.
Mas a União Europeia tem vindo a ser, por igual, o comando da destruição do Estado Social. Mas também o ditador que vem impondo uma estrutura de intervenção político-económica que está a conduzir os povos da Europa a um nível de pobreza nunca até há pouco imaginado. E isto – creio que já se percebe agora – está ligado ao tal TTIP, porque os Estados Unidos necessitam de que na Europa se ponha um fim no Estado Social, uma vez que eles nunca o tiveram nem no mesmo estão infimamente interessados.
Tal como por tantas vezes escrevi, já lá vão umas boas décadas, este século iria ser um século de grande pobreza. Uma pobreza que logo se acelerou com o fim da antiga União Soviética. Foi a presença desta que permitiu que os povos europeus pudessem dispor de uma estrutura de valorização de cada pessoa, olhada como um ser com direitos inerentes à dignidade natural da vida. E não deixa de ser interessante que o Papa Francisco não deixe sair uma palavra sobre o próximo descalabro humanitário que por aí está a vir na peugada do secreto TTIP...