Marcelo e o acordo ortográfico

|Hélio Bernardo Lopes|
Ninguém duvidou, fosse quando fosse, de que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa se constitui num concidadão nosso de elevada inteligência, cultura profunda, manha essencial para a política e bastante experiência neste domínio, embora não necessariamente governativa. 

Por tudo isto, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa tem vindo a colher grande simpatia junto dos portugueses. Ainda assim, espera-se sempre uma qualquer sua diatribe, desde sempre típica do seu modo de fazer política e jornalismo.

Os mais atentos já se terão dado conta de que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa tem uma propensão profunda para intervir no plano político que se liga à governação. Não tanto diretamente, mas por via do que costuma designar-se por uma espécie de regime forçado, (quase) invisível.

Precisamente o que há perto de uma semana se deu, e com algum mau resultado, ao redor das suas apreciações sobre o novo Acordo Ortográfico. Além do mais, fez essas suas considerações em Moçambique, tratando o tema numa perspetiva dinâmica, assim como se o Governo de Portugal estivesse, neste domínio, dependente do que venha a ter lugar em Moçambique e Angola. Como seria expectável, as reações não se fizeram esperar. Em Portugal, na CPLP e em Cabo Verde.

Ora, o Presidente da República tem o dever de unir, não de alimentar uma separação por razões meramente político-partidárias. A Direita de hoje – e a Extrema-Direita, obviamente – nunca assumiria a posição que se lhe conhece sobre o Acordo Ortográfico se este tivesse sido posto em vigor pelo Governo de Pedro Passos Coelho ou de Cavaco Silva. Só o fazem agora porque ele foi decisivamente impulsionado pelo Governo de José Sócrates.

Por tudo isto, no mínimo, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa não devia ter nunca apresentado a sua ideia – pouco feliz e evidentemente inoportuna – ao redor da revisão do Acordo Ortográfico. Bastaria que tivesse tido presente que existem hoje muitas centenas de milhares de crianças e de jovens que vêm escrevendo à luz do novo convénio desde há muitos anos. E também que tal temática está ligada à generalidade dos países da CPLP. É muito natural que os países desta estrutura possam ter interpretado as palavras do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa como uma espécie de intervenção nos seus assuntos internos.

O novo Acordo Ortográfico foi aprovado pelo Governo de Portugal e pelos restantes da CPLP, pelo que o Presidente da República, para lá de não ajudar à divisão criada pela Direita e pela Extrema-Direita, deve atuar sempre como um Presidente da República que não ajude a alimentar divisões artificiais, até porque não lhe compete governar. Mais um momento pouco feliz do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

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