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|Hélio Bernardo Lopes| |
O mais interessante das palavras ora proferidas por aquele bispo foi a sua negação de que o presidente sírio, Bashar al-Assad, seja responsável pelos horrores da guerra, que já causou quase trezentos mil mortos nos cinco anos que a guerra já leva. E foi mesmo mais longe na clarificação da realidade: o Governo do Presidente Bashar al-Assad não persegue cristãos, que são alvo dos jihadistas, procurando transformar o conflito numa guerra religiosa.
Olhando a solução futura que a guerra na Síria terá de vir a ter, o bispo de Alepo salientou que, à luz da sua perceção, cerca de oitenta por cento dos cristãos da Síria apoia o Presidente Bashar al-Assad se for candidato à reeleição. E mais: até os sunitas escolheriam Bashar al-Assad, para afastar os extremistas.
Ora, o bispo Antoine Audo também referiu, nesta sua entrevista que a Síria há muito que é um modelo de como as comunidades muçulmana e cristã podem viver em conjunto, num país onde a guerra foi importada. E completou: esta guerra não veio do interior da Síria, porque tudo foi organizado no exterior para destruir a Síria. Uma realidade que me traz ao pensamento o caso de Angola...
Aqui está, para a lamentável legião de políticos, jornalistas, analistas e comentadores que hoje enxameiam as nossas televisões, a autêntica realidade de há muito conhecida, mas sempre oportunista e cobardemente escondida. A realidade que eu mesmo pude já expor repetidamente. Uma realidade que também havia já sido identificada pelo núncio apostólico em Damasco.
No meio de toda esta montanha de mentira, diariamente veiculada nas nossas televisões, o estranho silêncio sobre os muitos milhares de cristãos assassinados nos países que os terroristas conseguiram ocupar, fruto, imensamente acima de tudo, dos mil e um erros e crimes praticados pelo Ocidente.
É essencial não esquecer que mesmo no Iraque de Saddam Hussein os cristãos eram protegidos, e que o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, Tarek Aziz, era, também ele, um cristão. Hoje, quase com toda a certeza, ser-se cristão no Iraque será um acontecimento raro. E tudo isto porquê? Pois, pelo que explicou alguém que pertenceu ao gabinete de Ronald Reagan: vai ser muito difícil acabar com o Estado Islâmico, porque foram os Estados Unidos que o criaram.
Perante tudo isto, e depois do que já fizeram ou consentiram, os líderes ocidentais, muito em particular os europeus, continuam a esquecer as pessoas e a olhar apenas a negociata. De cedência em cedência, os políticos europeus vão-se vendo na contingência de saltar de mentira em mentira.
Eu ainda compreendo o bispo católico de Alepo, Antoine Audo, ao evitar expor toda a verdade ao redor da guerra que devastou a Síria. Mas já não posso contemporizar com a falta de coragem política dos líderes europeus e da União Europeia, que continuam a mostrar-se incapazes de recusar ver-se envolvidos numa perigosa guerra de nervos criada pela tentativa de cerco dos Estados Unidos à Rússia. É tempo, tantas décadas já passadas sobre 1945, de os líderes europeus se assumirem como gente politicamente independente.