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|Tânia Rei| |
Quer seja numa festa, numa semana académica ou num festival, mulher que se preze faz logo “mira” às casinhas de plástico perfiladas, para que, quando tivermos de as usar, saber o caminho sem gaguejo. Para os homens é tudo mais fácil. Já para as senhoras…
Convém ir para a fila antes de estar desmesuradamente aflita. É que é coisinha para demorar, porque parece que todas as mulheres presentes têm a mesma idade ao mesmo tempo, e é, por isso, bom ir razoavelmente descansada. Ainda antes de cravarmos uma amiga para companhia, importa também saber se não nos esquecemos de colocar na mala ou no bolso um pacote de lenços, dos de cheirinho ou normais, ou toalhitas húmidas, porque ninguém quer passar nas partes íntimas papel higiénico que, a existir, já rebolou em mais bactérias do que um piaçaba.
Aqui começa a experiência. É que nas filas para satisfazer as necessidades fisiológicas tudo pode acontecer. Um dos clássicos é a moça que nos avisa que “não há papel” (grande novidade), ou então que nos anuncia que “está tudo sujo”, ou que “cheira mal”. Podem, eventualmente, pedir um lenço de papel dos nossos, que vamos ceder, esticando o maço, para evitar qualquer contacto físico desnecessário.
Pessoalmente, as idas à casa de banho, que acontecem, pois, pelo menos em parelha, é a altura em que me apercebo que estou rouca, e, por consequência, que devo ter passado horas a falar uns decibéis acima do permito por lei, porque há música aos berros. Acontece, ainda, ver pessoas que não via há meses ou anos, e que, por obra do acaso, estão com a mesma vontade do que eu, o que me obriga a usar em esforço a voz que descobri há minutos estar a dar falência.
Outro cliché é o pessoal que tenta furar a fila, porque “estão muito aflitinhas” ou “não dá mais”. Repare-se que mesmo nestas ocasiões as mulheres não perdem a pose e a postura, e não caem na brejeirada. É, contudo, possível que haja cenas de pancadaria. Parece incoerente, mas não é. É que às vezes um “ó linda, mas achas que és mais do que as outras, é?” pode não cair bem quando o corpo começa a dar sinais de si.
Boa ocasião para perceber quem se anda a enrolar com quem, já que as amigas aproveitam aquele tempo para dialogar sobre o que está a acontecer no evento: quem disse o quê, a quem, como, quando e porquê – repórteres de WC.
Nestas filas, há sempre uma rapariga fixe, que pensamos interiormente “ena pá, que fixe ela é”, e que é quem nos diz “podes ir na boa, que eu pego-te na porta”. Até porque alguém há-de ter já gritado há meia hora atrás que a porta não tem trinco.
Uma vez dentro dos contentores, começa outro filme, em que somos as protagonistas. Começamos a jogar sozinhas o Operação, em que tocar numa pontinha do que quer que seja dá direito a ouvir uma buzina e a acender luzes vermelhas. Tentamos não pensar em mais nada, a não ser naquele momento. Muitas de nós tentarão ser cívicas, e não demorar vidas dentro da casita, sob pena de ouvir umas bufadelas assanhadas do lado de fora.
Claro que no tempo em que nos ausentamos para fazer chichi, o mundo pulou e avançou. Os nossos amigos homens já fizeram o que tinham a fazer, e, benza-os Deus, já nos arranjaram uma bebida.
O que significa que, dentro de pouco tempo, a saga começa outra vez.