Mais um Natal que passou

|Hélio Bernardo Lopes|
Volto hoje a escrever à semelhança do que faço diariamente, agora que entrámos num novo ano e que passou a mais recente quadra natalícia. Uma quadra que, como de há muito se fez hábito, me trouxe como lembranças do Pai Natal mais alguns livros para ler e que ajudarão a encher os lugares da minha biblioteca pessoal. 

Livros que acabarão por ser lidos pelos meus familiares mais diretos, também por amigos diários, e que acabarão por ir parar aos meus netos, certamente dentro ainda de uns bons anos.

Dado que a atual família lata é muito grande, acabei por receber nove excelentes obras, de resto já presentes na lista sempre atempadamente elaborada: o quarto volume da obra de José Pacheco Pereira, ÁLVARO CUNHAL; JIHADISMO GLOBAL. Das Palavras aos Atos, de Felipe Pathé Duarte; ISLÃO E O OCIDENTE. A Grande Discórdia, de Jaime Nogueira Pinto; O AMANTE JAPONÊS, de Isabel Allende; AS FLORES DE LÓTUS, de José Rodrigues dos Santos; D. AFONSO III, de Diogo Freitas do Amaral; O FIM DOS SEGREDOS, de Catarina Guerreiro; UMA HISTÓRIA DA CURIOSIDADE, de Alberto Manguel; e PAI NOSSO, de Clara Ferreira Alves, que é o que comecei a ler primeiro e estou prestes a acabar. E ainda me vi prendado com o empréstimo d’O MEU AVÔ LUÍS, de Sofia Pinto Coelho, que será o que irei ler de seguida, de molde a devolvê-lo rapidamente.

Significa isto, pois, que tenho material de leitura, em papel, para os meses de janeiro, fevereiro e março. No mínimo, porque continuo a ler dissertações de mestrado, teses de doutoramento e obras de descarga gratuita, em geral lidas algum tempo antes de me deitar. Este último tipo de leitura só pode ser feito àquela hora, porque logo de seguida tenho a oportunidade de dar descanso à vista. A verdade é que ler no computador é bastante cansativo.

Este Natal, porém, trouxe algum vislumbre de um mínimo de esperança para o ano que agora começou. Talvez também para futuro. Mas manteve situações que se têm sempre de reputar como graves.

De bom trouxe, por exemplo, o atual Governo e a saída de Paulo Portas da liderança do CDS/PP. Se o primeiro transporta consigo muita esperança, também o segundo nos trouxe um excelente alívio. Tudo está agora em saber se a direita irá apoiar Durão Barroso ou Paulo Portas na próxima corrida presidencial. E também nos fica a dúvida sobre se uma recusa de Nuno Melo em vir a chefiar o CDS/PP se saldará na entrada de um seu companheiro da Opus Dei, como já começou a por aí aparecer.

Em contrapartida a situação internacional, mormente no Médio Oriente, é como nos expõe Clara Ferreira Alves no seu PAI NOSSO. Um ambiente em acelerada conflitualidade, agora também com a nova tensão entre o Irão e a Arábia Saudita. E não deixa de ser interessante constatar o modo como o Ocidente – sobretudo os Estados Unidos – facilmente passa por sobre a pena de morte no segundo às dezenas, com Putin e a sua Rússia a surgirem como mediadores potenciais de um apaziguamento de mais esta (perigosíssima) crise. O que os Estados Unidos vêm causando por todo o lado...

Simplesmente, a União Europeia é hoje, já de um modo indubitável, um verdadeiro barco à deriva. O encerramento das fronteiras em países escandinavos e o que está a passar-se na Polónia, mostram bem que a União Europeia é hoje já um simples nome sem real e vivido conteúdo. Objetivamente, está morta e constitui-se numa permanente fonte de problemas para a generalidade dos seus Estados.

Com graça foi como recebi a notícia de que a presença popular em São Pedro, a fim de acompanhar o Papa Francisco, está hoje reduzida a níveis da ordem de metade do que já foram. No fundo, uma realidade que acompanha o que ouvimos a Francisco nesta quadra natalícia e em momentos diversos. Já ninguém liga a quase nada, dado ter-se percebido que a classe política dirige os destinos dos Estados e das suas agregações à luz de interesses totalmente ligados à riqueza e interesses de uns quantos, sempre esquecendo as pessoas e a sua essencial dignidade: banco é banco, as pessoas coisas cá para baixo.

A grande verdade, já hoje indiscutível, é que os refugiados não vêm chegando às paróquias católicas da Europa, como o Papa Francisco havia solicitado. Se nós iríamos receber cerca de quatro mil e quinhentos, quantos ainda não chegaram? E quando é que irão chegar, a um ritmo como o atual? Sejamos sinceros: tudo não passa de bazófia.

Por fim, uma marca muito impressiva que me chegou em plena Noite de Natal. Conversando sobre a vida política portuguesa com uma sobrinha-neta por afinidade, licenciada na área da Estomatologia, completamente alinhada com o PSD, dela escutei a manifestação da sua discordância de que todos ganhem o mesmo, tenham ou não estudado. Com isso ela dizia não poder concordar...

Expliquei-lhe, então, que nem no espaço de influência da antiga União Soviética era essa a situação: general ganhava mais que coronel, e este mais que capitão. E salientei-lhe que o que é natural defender é que cada família possa dispor de condições que permitam uma vida digna, ganhem muito ou pouco, tenham muitos ou poucos estudos. E rematei apontando-lhe o seu Papa Francisco, de quem diz gostar tanto. Basta seguir as suas propostas.

Quanto à campanha para o Presidente da República, a grande verdade é que me limito a acompanhar os resumos dos debates, em geral nos noticiários da meia-noite. Não penso ir além disto e, naturalmente, votarei em António Sampaio da Nóvoa. É o mais independente, tem um currículo e uma dominância do que se prende com a vida pública amplos, e não suscita um ínfimo de dúvida sobre que o que dele nos chega possa comportar algum enviesamento político. É como se vê. António Sampaio da Nóvoa é como se vê.

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