As promessas

|Tânia Rei|
Quanto tudo já foi dito, feito e sentido, o que resta para os que cá estão?
Num mundo sem novidade, sem desafio, sem gota de suor para cair, sem lágrima para chorar, sem gargalhada para arrancar, o que fica para quem quer seguir?

O ano é novo, a vida é nova. Só que não. Nesta época do ano, em que ainda se atira “bom ano” por cima do ombro em cada esquina, acompanhado de um sorriso, não consigo evitar de pensar que uma meia-noite não vai mudar as nossas vidas, a não ser que haja por aí alguém que se chame Cinderela.

Demoro sempre a digerir as passagens de ano – as festas, as bebidas, e, principalmente, as passas, que, essas sim, são indigestas. “Não há nada de novo debaixo do sol”. Não sei quem disse, porque, aposto, já na altura não era novo. Era só uma recauchutagem de outra frase, que, quase que aposto o dedo mindinho da mão direita, já vinha na Bíblia em primeira mão.

Claro que esta conversa tinha, inevitavelmente, de acabar nas famosas listas de resoluções de ano novo. Há quem as escreva, há quem as prometa ao “eu” interior e o que há mais é quem nunca as cumpra, até porque, com os excessos da noite, há quem nem sequer se lembre que tinha prometido algo ao Ano Novo.

Não sei muito bem por que é que se prometem coisas numa altura em que sabemos de antemão, não estamos sãos para tal. Por diversos motivos. Para mim, a semana que se estende entre o Natal e o Ano Novo é como um Verão curtinho. Há sempre que fazer, há euforia e festas. Em resumo, é quando como vemos aquele amigo que não víamos há anos, e a quem deixamos de falar por motivos mais ou menos lógicos. Prometemos manter contacto, trocamos números de telemóvel, dizemos o nome pelo qual devem procurar no Facebook, mas é óbvio que nunca mais nos vamos lembrar da sua existência. É a loucura do momento que fala por nós.

Eu cá não gosto de prometer. Prometer é criar uma dívida, com alguém, com nós mesmos ou com o destino. Podemos mentir a outra pessoa, a nós. Mas ao destino não, que ele é matreiro, e vai apanharmos.

Se 2015 não foi carne nem peixe, a culpa não foi do ano – decerto que foi nossa. Não se culpe 2015 de nada, nadica, nem muito menos se prometa a 2016. Tudo que foi dito, feito e sentido em 2015 pode ser replicado, ignorado ou ampliado este ano e nos seguintes, até que fiquemos saciados de Ano Novo. Bom Ano Novo!

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